Nesta briga pelo controle do conselho da Oi vemos vários comentários em jeito de torcedor, uns apoiando a atual gestão da empresa e outros apoiando Victor Adler e a Tempo Capital. Na última matéria resumimos os principais argumentos públicos de cada um dos lados. Vamos dar o nosso entendimento sobre os argumentos de cada um, tentando fazer uma avaliação racional e objetiva, deixando as torcidas para o futebol, porém, tendo uma certeza em mente: cada lado defende os SEUS interesses.
Vamos por partes. A Oi é hoje uma empresa altamente pulverizada, com mais de um milhão de acionistas e sem um sócio controlador. Num contexto normal, quando um acionista quer ganhar o controle do conselho de uma empresa, reforça ou compra uma participação relevante nessa empresa. Não é isso que vemos na Oi. O atual conselho não é representativo da base de acionistas, os conselheiros são supostamente “independentes”, mas não é claro que interesses defendem – para além de defenderem a sua generosa remuneração. Não podemos excluir o risco de, num cenário destes, o conselho ser dominado por interesses alheios aos seus acionistas, tomando decisões que não valorizam a empresa e o capital dos acionistas.
Começando por Victor Adler – Tempo Capital, a única informação que conhecemos é o comunicado divulgado através de fato relevante da Oi. Nesse comunicado são apontados vários fatos aos quais somos sensíveis, sobretudo a quebra de 90% do valor da empresa nos últimos 2 anos. Tal como os restantes acionistas, que investem há vários anos na empresa, sentimos no bolso o peso da desvalorização da empresa. Neste sentido, só podemos concordar que esta administração apresenta um resultado insatisfatório. Não há como avaliar positivamente quem desvalorizou a empresa em 90%. A deficiente comunicação da empresa é outro dos argumentos. Só podemos concordar.
Apesar da avaliação negativa do desempenho da atual administração da Oi, traduzida na brutal desvalorização da capitalização de mercado da companhia, com uma queda da cotação de R$ 20 para R$ 2 (valores corrigidos pós grupamento), o que esperamos de quem quer controlar o conselho sem comprar uma participação relevante da empresa e que tem que convencer os restantes acionistas do mérito da sua ação, é que apresente aos acionistas uma estratégia alternativa, um caminho e uma visão de futuro para a empresa. A verdade é que nada foi comunicado a esse respeito. Não podemos dar carta branca a uma proposta que apenas aponta os problemas da atual gestão, mas não apresenta qualquer perspectiva de novo rumo para a empresa e de solução para os seus problemas.
Quanto à atual administração da Oi, Rodrigo Abreu é um profissional experiente, com currículo no setor de telecomunicações e que trouxe uma estratégia para a companhia. A visão para o turnaround foi a de criar a maior empresa de fibra do Brasil e, para isso, desinvestir dos restantes negócios da empresa para focar no novo negócio. Ao fim de alguns anos a Oi tinha, finalmente, uma visão de futuro. Tudo parecia fazer sentido e o plano começou sendo implementado com sucesso. Esperávamos que a Oi saísse da recuperação judicial (RJ) como uma nova empresa, em crescimento, mais sólida e capaz de enfrentar os novos desafios.
A Oi saiu da RJ e poucos dias passaram até que os acionistas tomassem um balde de água fria. Não precisamos detalhar aqui todo o processo que a Oi atravessa com a ameaça de em poucos dias entrar novamente em RJ, mas a mensagem foi clara: A Oi não é uma empresa sustentável com a atual estrutura de dívida.
Ainda acreditamos que é possível resolver a estrutura de dívida e ultrapassar essa fase atual, tornando a Oi numa empresa sustentável e viável, mas há pontos que não podemos deixar de apontar à gestão da empresa. Não duvidamos da capacidade e competência de Rodrigo Abreu, mas, face às evidências, não conseguimos estar certos do seu alinhamento com os interesses dos acionistas. A comunicação tem sido péssima, com sinais pouco claros, muitas vezes parecendo desrespeitar ou ignorar os acionistas. Já referimos em outra matéria o fato de efetuarem as apresentações de resultados em inglês. Numa empresa que tem mais de um milhão de acionistas CPF e que não tem acionistas estrangeiros controladores, isso tem algum sentido? Ainda assim, por vezes, nessas apresentações parecem querer “mascarar” a realidade. Vejamos, como mero exemplo, o caso abaixo onde $250 milhões de dólares norte-americanos aparecem representados no gráfico como se de R$ 250 milhões se tratassem. Infelizmente são 5 vezes mais!
E o caso da venda da participação da V.tal ao BTG, no nosso entendimento, foi a grande falha desta administração. Já abordámos o problema em outras matérias (acesse aqui), mas o resultado é que não só não entrou o dinheiro esperado, como a participação da Oi deveria ser de 49% e acabou resultando em pouco mais de 30%. A rede de fibra, através da V.tal, é um ativo central para a estratégia da Oi. Se isto não é uma traição aos acionistas da empresa, então a administração teria que explicar muito detalhadamente a situação. Não o fez. Há ainda o contrato com a Globenet que, não sendo um problema causado por esta gestão, não teve qualquer evidência de tratativa para resolução no escopo da RJ. Não encontramos nenhuma razão válida para a forma como acabou esta negociação da V.tal, ainda mais, de pessoas supostamente competentes. Existirão outras motivações?
No press release de 15 de fevereiro, a Oi considera ter sido tratada de forma equivocada e injusta. Se há “alguém” tratado de forma muito injusta em todo este processo são os acionistas da empresa. E a injustiça tem um número: 90%, ou seja, a incrível perda de valor da empresa em 2 anos.
Por tudo o exposto, não podemos apoiar nenhum sentido de voto na assembleia geral extraordinária do próximo dia 6 de março. Se até lá surgirem novas informações faremos a nossa avaliação. Tentamos fazer avaliações racionais, com sentido crítico, baseadas em fatos e evitando torcidas meramente emocionais. Por agora, nenhuma das chapas merece a nossa carta branca. Por um lado, não conhecemos o plano de Victor Adler e mudar só por mudar não é garantia de solução. Por outro, temos uma administração que tem tratado muito mal os acionistas e com o resultado que sentimos no nosso bolso. Pior do que está não fica? Talvez a melhor solução seja mesmo deixar que o conselho fique dividido, esperar que uns fiscalizem os outros e desejar que os seus interesses estejam alinhados com os dos acionistas. Uma certeza temos, cada lado defende os seus interesses porque os nossos parecem órfãos.
Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.