Com uma queda na cotação das ações Oi (OIBR3) superior a 50% desde o início do ano, um investidor endereçou uma carta aberta ao CEO da Oi, Marcelo Milliet, apelando a que mais informações sejam divulgadas e maior atenção seja dada aos pequenos investidores.
Na carta, o investidor português apela a que o CEO da companhia evite um novo grupamento das ações, atualmente cotadas a R$ 0,60, mostrando também indignação com a remuneração aprovada para a administração da empresa nos próximos três anos, de até R$ 199 milhões, valor que indica corresponder à atual valorização de mercado da Oi.
A carta aberta demanda mais informações e maior transparência em vários processos críticos para a empresa, como a venda de imóveis, de cobre e a arbitragem com a ANATEL. Também ressalta a participação na V.tal, um dos principais ativos da empresa, como um fator de preocupação para os pequenos investidores.
O investidor apela ainda à PIMCO, atualmente o maior acionista da Oi e um líder global de fundos de investimento, para que valorize os pequenos investidores.
Recordamos algumas matérias que publicámos sobre o histórico da Oi nos últimos anos, com situações a que a carta se refere:
- Buraco de 3,7 bi no Relatório de Viabilidade Econômica da Oi – Quem Errou? ou Quem Enganou Quem?
- Mais dúvidas sobre o duvidoso Relatório de Viabilidade duvidosa da Oi
- Venda da V.tal – Globenet ou GOLPE net na RJ da Oi?
- Surpresa! Globenet vale R$ 1,5 bi mas receberá R$ 10 bi da Oi até 2028
- Surpresa! Custo da Oi com V.tal é superior a toda a receita Oi Fibra – Tente entender porque nós não entendemos
Abaixo transcrevemos toda a carta do investidor.
“Exmo. Sr. Marcelo José Milliet
Diretor Presidente e de Relações com Investidores da Oi
Sou acionista e também credor da Oi, detendo ações da empresa há vários anos.
Tal como muitos pequenos investidores, acionistas e credores, tenho acompanhado de perto a evolução da empresa, sobretudo nos últimos anos.
A recente queda da cotação das ações OIBR3, acumulando uma desvalorização superior a 50% desde o início do ano, além de aumentar o saldo negativo de muitos pequenos investidores, elevou o nível de preocupação com a situação e o futuro da empresa.
Recordando o histórico recente, a anterior gestão, que conduziu a empresa à segunda Recuperação Judicial, não deixou saudades entre os pequenos investidores. Os últimos anos foram repletos de surpresas e absurdos. Lembro, como exemplo, o Relatório de Viabilidade a 3 anos que, em agosto de 2022 foi entregue à justiça, mas que afinal não tinha as “contas certas” e, a suposta viabilidade, não durou três anos, mas apenas alguns meses.
Não esquecemos também a venda da V.tal – a rede de fibra da Oi e o seu maior ativo na época, onde a Oi manteria 49% de participação e, afinal, acabou com uma participação reduzida a apenas 17%. Isto sem entrar nos detalhes do negócio, que não resultou no reforço adequado do caixa da Oi e incluiu a Globenet. Como se não bastasse perder o seu principal ativo, a Oi viria ainda a assumir encargos demasiado pesados pelo uso da rede anteriormente sua, que tornariam a operação de fibra deficitária, conforme acabou por se tornar evidente.
Com a aprovação e homologação do plano da segunda recuperação judicial, com o novo financiamento e o fim da concessão do serviço de telefone fixo, a Oi entrou numa nova fase. Ficou claro que a empresa resultante teria uma estrutura reduzida e focada no negócio B2B, passando a estratégia por vender ativos para amortizar a dívida, ficando a operação concentrada na Oi Soluções. Ficou igualmente evidente que o valor de venda dos ativos será crucial na estratégia da empresa para reduzir a dívida a valores sustentáveis. A amortização da dívida financeira com vencimento em 2027 e 2028/2030, assim como, da dívida com os credores Take or Pay sem garantia – Opção I, serão fatores críticos para o sucesso do plano e viabilidade da empresa.
A recente queda da cotação das ações, à qual poderá não ser alheia a redução da participação de dois dos principais acionistas, elevam mais ainda a necessidade de maior visibilidade sobre a situação e o futuro próximo da empresa. A venda de participações tão relevantes quanto as comunicadas, apesar de legítimas, não são inócuas e geram apreensão entre os pequenos investidores.
Além de outros impactos, a queda das ações poderá conduzir à obrigação de um novo grupamento das ações, o que entendo ser indesejável, sobretudo quando as ações da empresa têm vivido de grupamento em grupamento nos últimos anos. Com todo o historial de grupamentos, deixo a V.Exa. o apelo para que desenvolva os melhores esforços no sentido de evitar um novo grupamento.
Através desta Carta Aberta e com base em todo o contexto da Oi, apelo a V.Exa. para que transmita ao mercado mais informações, sobretudo no que respeita à situação da operação e dos principais ativos da companhia, que serão essenciais para amortização da dívida e para a viabilização da empresa, assim como, da situação atual da dívida com os credores Take or Pay sem garantia – Opção I, que foram alvo de diversas operações previstas no plano de recuperação judicial.
A venda de imóveis e do cobre, ativos relevantes para a companhia, são operações sobre as quais gostaríamos de ter uma melhor perspectiva.
Com a venda da ClientCo à V.tal, a importância da participação na V.tal para o futuro da empresa tornou-se ainda mais “vital”. Assim, seria importante dar a conhecer ao mercado as estratégias desenhadas para este ativo, sobretudo no que respeita à sua valorização e monetização.
A arbitragem em curso com a ANATEL relativa ao défice da concessão, além de constituir um ponto relevante no acordo com a V.tal e no que respeita à dívida com a ANATEL, é também um fator crítico para o futuro da companhia, pelo que, é outro ponto de atenção e preocupação dos pequenos investidores.
Ter a PIMCO como principal acionista da companhia traz-nos a confiança no respeito pelos pequenos investidores e a esperança na viabilidade da empresa. A PIMCO é um dos líderes globais na gestão de fundos de investimento, estando presente em muitos mercados em todo o globo e tendo a confiança de muitos pequenos investidores.
Certamente, muitos dos pequenos investidores da Oi, acionistas ou credores, serão também clientes da PIMCO, investindo as suas poupanças nos seus fundos. Apesar de hoje ser uma empresa com a atividade bastante localizada, por razões históricas, entre os pequenos investidores da Oi encontram-se não apenas brasileiros, mas também portugueses, italianos, espanhóis e muitos outros.
Deixo ainda uma nota de indignação, transversal a muitos pequenos investidores, com a remuneração de até R$ 199 milhões aprovada para o triénio 2025-2027. Recordando que a capitalização de mercado atual da companhia é próxima deste valor, este montante de remuneração só pode entender-se como descabido de racionalidade. No mínimo, seria relevante, a bem da transparência, identificar claramente de que objetivos ou metas este valor está dependente.
Estou certo de que, dado o histórico e o contexto da empresa, V.Exa. será capaz de compreender a incerteza e o nível de preocupação que sentem os pequenos investidores, sobretudo após anos tão difíceis. Com a PIMCO enquanto principal acionista e credor, estamos certos da devida valorização e respeito pelos pequenos investidores. Deixo assim a V.Exa. o apelo para que transmita ao mercado informações adicionais que permitam aos pequenos investidores melhores perspectivas sobre a evolução e futuro da empresa.
Quero ainda deixar a V.Exa. os meus votos dos maiores sucessos no desempenho das funções que assume na Oi, sendo certo que o seu sucesso será o sucesso da empresa e dos seus investidores.
Com os melhores cumprimentos,
Nuno Fonseca”
Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.