Oi pode zerar dívida em poucos anos – Entenda

Se está procurando a resposta para a solução da dívida da Oi exclusivamente nas contas operacionais da companhia, não vai achar.

A dívida da Oi, apesar de ter vindo a ser progressivamente reduzida com a venda de ativos, é ainda considerável. A participação maioritária na rede de fibra ou a unidade de telefonia móvel, entre outros ativos, permitiram uma redução significativa porém, a dívida atual representa ainda um desafio para a Oi. Num conjunto de matérias analisámos todos os detalhes da dívida da Oi – pode acessar aqui.

Olhando a Dívida Líquida/EBITDA, estimando um EBITDA de R$ 1,3 bilhões para 2022 e os $18 bilhões de dívida líquida reportados no 3T2022, chegamos a um valor de 14x, ou seja, num cálculo simpificado, a empresa levaria 14 anos a pagar a sua dívida. Obviamente, este valor parece muito alto.

A empresa está aguardando ainda entradas em caixa, porém, o principal fator desta equação da dívida da Oi é outro. A Oi possui um ativo muito valioso e que, além disso, está em forte crescimento e valorização. Esse ativo é a sua participação na V.tal – a empresa que criou para a maior rede de fibra ótica do país.

O Crescimento da V.tal

A V.tal foi recentemente avaliada em R$ 27 bilhões pela equipe de research do Santander e a participação da Oi, que é de 34%, valerá, por consequencia, R$ 9 bilhões.

A rede e as operações da V.tal continuam crescendo, não apenas pela expansão da rede, mas também através de contratos com outras operadoras que pretendem utilizar a sua rede neutra. Foram já anunciados mais de 30 contratos, entre eles, um contrato com a TIM para o serviço de fibra (FTTH) e interligação de 2,5 mil antenas 5G da operadora.

Além do crescimento orgânico planejado com a expansão da rede, o recente aumento de capital, realizado através do investimento de R$ 2,5 bilhões pelo Canada Pension Plan, permitirá equacionar o crescimento também através de aquisições. A estratégia foi comunicada pela Oi em fato relevante em 25 de novembro de 2022.

O Valor da V.tal

Com o crescimento, a estimativa é de que em poucos anos a V.tal possa valer mais de R$ 50 bilhões e, nesse sentido, a participação da Oi sairá também valorizada, passando a valer algo próximo de R$ 18 bilhões. Chegamos então ao ponto onde a participação da Oi na V.tal valerá mais do que a sua dívida líquida. Imaginemos que a Oi quitaria a sua dívida vendendo a participação na V.tal, teríamos uma companhia sem dívida e com um EBITDA de mais de R$ 2 bilhões por ano, o que seria um excelente resultado.

Recordamos que, no plano estratégico apresentado em julho de 2021, a Oi projetava uma valorização para a V.tal (Infraco na época) de R$ 54 bilhões, estimando o valor em 10 vezes o EBITDA para 2025. Ainda que o processo tenha atrasado, face ao previsto à época, e esta valorização possa ser alcançada em 2026, a análise continua válida.

Participação na V.tal valerá tanto ou mais do que a dívida da Oi

Este é um cenário meramente hipotético, uma vez que, não acreditamos que a Oi tenha como cenário central a venda de toda a sua participação na V.tal – o que representaria também desafios regulatórios, no entanto, fica demonstrado que, se cumpridos os pressupostos de valorização, a participação na V.tal seria suficiente para cobrir toda a sua dívida. Nos cenários mais prováveis, a Oi contará com dividendos da V.tal ou até com a venda de uma parte da sua participação, mas a V.tal fará sempre parte da chave para a dívida da companhia. Mesmo sem redução do seu percentual da empresa, a participação na V.tal é uma garantia de elevada qualidade que está sendo ponderada pela Oi na negociação com credores. Não faz sentido analisar a Oi ignorando um ativo tão relevante como é a participação na V.tal.

A negociação em curso com credores será um ponto chave, até porque, como demonstrámos nas matérias de análise da dívida, os pagamentos previstos nos próximos três anos são pesados. O que demonstramos com este exercício é que, endereçando esses pagamentos de forma a que sejam acomodáveis para o caixa da empresa e olhando mais à frente, a dívida da empresa é administrável.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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