Oi Reduz 70% da Dívida Financeira – Entenda a Reestruturação e os Desafios

O plano de recuperação judicial, aprovado e homologado, implicará um corte significativo na elevada dívida financeira da companhia.

O endividamento da Oi, mesmo após a primeira recuperação judicial (RJ), continuou muito elevado. A incapacidade de reduzir a dívida com a venda de ativos pode ser apontada como uma das principais causas do insucesso da primeira RJ e da entrada na segunda.

A Dívida Pré-Reestruturação

Analisando a situação da dívida com base dos dados divulgados na última apresentação de resultados, encontramos um valor de R$ 38,5 bilhões a valor de face, com um valor justo (processo de ajustamento contábil que considera os prazos de pagamento, entre outros fatores) de R$ 27,5 bilhões.

Oi – Release de Apresentação de Resultados 1T2024 – página 11

O Corte Aprovado na RJ

O plano de recuperação aprovado em 19 de abril permitirá uma redução muito substancial da dívida financeira. O corte nos créditos dos credores variará consoante contribuam, ou não, para o aporte de um novo financiamento.

Os credores que aportem dinheiro no novo financiamento – Opção 1 – terão um corte menor nos seus créditos, com a rolagem da sua dívida em novas notes Roll-Up no valor total de R$ 6,75 bilhões e vencimento em 2028, com uma parte podendo ter o seu vencimento adiado para 2030. Os principais credores esperados nesta opção são grandes fundos financeiros internacionais como a PIMCO.

A Opção 2 será a opção de reestruturação destinada aos credores que não aportem novo dinheiro. Nesta opção, esperamos que se enquadrem os bancos nacionais, como o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Itaú e também o banco de desenvolvimento chinês – China Development Bank. Estes credores verão a sua dívida começar a ser paga apenas em 2044 e podendo ser reduzida a pouco mais de 15% do seu valor original caso a Oi opte por um pré-pagamento, que pode ocorrer até ao último dia do vencimento.

A nossa estimativa é de que créditos no valor total de R$ 13 bilhões adiram à Opção 1 e R$ 16 bilhões entrem na Opção 2, o que está em linha com o laudo econômico-financeiro elaborado pela EY e anexo ao plano de recuperação. Assim, teríamos:

  • Opção 1 – Roll-Up – Credores que Aportam Novo Financiamento
    • R$ 13 bi seriam cortados para R$ 6,75 bi.
    • Corte para aproximadamente 50% do crédito original.
    • Adicionalmente, estes credores terão direito a 80% das ações da companhia.
  • Opção 2 – Dívida A&E Reinstated – Credores Sem Aporte
    • R$ 16 bi seriam cortados para algo próximo de R$ 2,5 bi, considerando o pré-pagamento.
    • Corte para aproximadamente 15% do crédito original (simplificando as duas parcelas desta dívida).

No Total, segundo a nossa projeção, teríamos um corte de várias parcelas da dívida financeira num total de R$ 29 bilhões para R$ 9,25 bilhões. Este corte representa uma redução de aproximadamente 70%. Essa redução foi evidenciada pela companhia na apresentação de resultados do 1º trimestre de 2024 onde a empresa destacou: “Expectativa de redução de 70% da dívida financeira reestruturada“.

Há ainda a considerar que estes valores poderão variar com a evolução do câmbio do real face ao dólar norte-americano. Importa lembrar que os valores apresentados e calculados na data da aprovação do plano consideravam o dólar em torno de 5,00 reais e atualmente o câmbio está em 5,70 reais. É esperado que a maioria da dívida Roll-Up (R$ 6,75 bilhões) seja emitida em dólares norte-americanos.

A dívida Oferta Geral, apresentada na tabela acima e no montante de R$ 5,3 bilhões, não foi reestruturada. Essa dívida continuará com o seu vencimento e será paga apenas a partir do último dia útil de 2048, em 5 parcelas anuais, iguais e sucessivas. Além disso, a Oi poderá efetuar a qualquer momento o pré-pagamento, pagando apenas 15% do seu valor – cerca de R$ 800 milhões.

Com o Novo Financiamento, no valor de US$ 505 milhões financiados pelos credores da Opção 1, acrescidos de US$ 150 milhões financiados pela V.tal, um novo financiamento total no valor de US$ 655 milhões entrará no caixa da Oi e substituirá o Empréstimo DIP. A linha DIP da tabela acima será assim substituída pelo Novo Financiamento.

Ao valor financiado teremos ainda de adicionar os 19% de taxa de conversão que será paga aos fundos pela conversão do DIP e à V.tal, num valor que estimamos em algo próximo de US$ 105 milhões (para uma estimativa de conversão de US$ 550 milhões).

Numa análise global, a dívida financeira da Oi após reestruturação deverá resultar nas seguintes parcelas:

  • R$ 6,75 bi – Opção 1 Roll-Up (maioria esperada em USD podendo variar dependendo do câmbio).
  • R$ 2,50 bi – Opção 2 (estimativa considerando pré-pagamento).
  • R$ 4,30 bi – Novo Financiamento (US$ 655 milhões + US$ 105 milhões).
  • R$ 0,80 bi – Oferta Geral (estimativa considerando pré-pagamento).

No total, segundo a nossa estimativa, a dívida total, considerando os pré-pagamentos, cairá de R$ 38,5 bi para um valor entre os R$ 14,5 e os R$ 17 bilhões – a valor de face.

Desafios no Caminho

Apesar do enorme corte na dívida, implicando elevadas perdas para os credores que, para a maioria da dívida, implicará cortes próximos de 85% e vencimento a mais de 20 anos, o pagamento da dívida ainda apresenta desafios consideráveis para a Oi.

Além do Novo Financiamento, a Oi previa somar ao seu caixa R$ 1,5 bilhão na venda da ClientCo – o restante teria como destino o pagamento aos credores. Sem esse encaixe, o plano prevê que a companhia possa efetuar um novo crédito até ao mesmo valor.

O Novo Financiamento e a Dívida Roll-Up terão vencimento em 2027 e 2028, respectivamente, estando o seu pagamento atrelado a garantias e à venda da ClientCo, da participação na V.tal e de imóveis. A soma destas duas parcelas de dívida, não considerando os juros, soma mais de R$ 11 bilhões.

A venda da ClientCo, com apenas uma oferta e a preço absurdamente baixo na primeira rodada, não deixa espaço para otimismos excessivos. A execução do plano de recuperação traz desafios.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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