O que restará da Oi após Venda da Oi Fibra

Em 25 de Outubro de 2023, a Oi comunicava em fato relevante a intenção de vender a unidade ClientCo, ou seja, o seu negócio de fibra com cerca de 4 milhões de clientes. Essa possibilidade fazia parte do plano de recuperação judicial apresentado em maio, mas como hipótese e apenas dentro de alguns anos. Uma venda no imediato surpreendeu o mercado.

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O serviço de banda larga via fibra ótica da Oi é, atualmente, o seu principal negócio e a aposta estratégica da “Nova Oi”, que resultou do primeiro plano de recuperação judicial.

Há pouco mais de um ano, Rodrigo Abreu assumia “a aposta que a companhia fez de virar todo o seu campo de estratégia para a fibra, para criar uma empresa viável no futuro, se mostrou uma aposta acertada, se mostrou uma direção de tendência que efetivamente aconteceu. É uma ajuda ao nosso caso e permite que a gente vislumbre uma empresa de futuro, de longo prazo, que tem valor e que está num mercado sustentável.” (entrevista à Genial investimentos a 7 de dezembro de 2022 (acesse aqui no Youtube – minuto 11:45).

O que sucedeu à principal aposta estratégica da Oi?

Conforme vimos demonstrando em vários artigos, a receita com a Oi Fibra está estagnada porque o número de clientes não cresce.

A expectativa comunicada pela Oi no blow out (abril de 2023) seria de fechar o ano de 2023 com 4,725 milhões casas conectadas com fibra. Com os números conhecidos, a nossa estimativa é que o número de casas conectadas tenha terminado o ano próximo de 4 milhões. No terceiro trimestre, o último com contas públicas, o número de clientes fibra/casas conectadas decresceu e isso enquanto o mercado de banda larga por fibra registrou crescimento no mesmo período.

O segundo problema, em nossa opinião, são os custos com a V.tal. Pelas contas apresentadas é possível estimar que a Oi Fibra tem um custo demasiado alto com o uso da rede da V.tal e, por isso, não gera caixa suficiente para que a empresa possa ser viável.

Com um negócio que não cresce e um custo demasiado alto, não entregando resultados positivos que façam crescer o caixa da empresa, acreditamos que a empresa escolheu equacionar a venda daquele que é seu principal negócio – a Oi Fibra.

A concretizar-se, é um falhanço enorme de toda a estratégia montada por Rodrigo Abreu e demais equipe de gestão da Oi. A Oi vendeu todos os seus principais ativos e focou na fibra. Investiu bilhões na rede de fibra, ficando com apenas cerca de 30% da V.tal e pagando um custo muito alto pelo uso da rede.

O que restará então da Oi em caso de venda da Fibra – Client.Co?

Segundo informações recentes avançadas pelo Brazil Journal, que entrevistou Rodrigo Abreu, a ideia é que a Oi se torne uma empresa asset light e com foco na prestação de serviços através da Oi Soluções, a unidade de negócios que atende clientes corporativos com soluções de telecom e TI.

Relativamente ao asset light, que em tradução livre para português significa ativos “leves”, após vender o que resta da sua participação na V.tal e o seu negócio de Fibra (Client.Co), mais do que leve, teremos uma empresa praticamente sem outros ativos além dos bens imóveis que não venha a vender. O resultado será uma empresa pequena, com uma atuação muito mais reduzida e, veremos, com que portfolio e fatores de diferenciação.

Vamos olhar as contas, com base no último relatório trimestral conhecido, do 3T 2023 e que revela também os números dos primeiros 9 meses do ano passado.

Em: Oi – Release de Resultados 3T 2023

A Oi Fibra representa mais de metade das receitas da Nova Oi – R$ 1,1 bilhão no 3T2023 e R$ 3,3 bilhões nos primeiros 9 meses de 2023. Isto significa que, vendendo a unidade de negócio que mais receitas gera para a empresa, o faturamento cairá para menos metade.

Quanto à Oi Soluções, no terceiro trimestre de 2023, apresentou receitas próximas de R$ 700 milhões e um pouco acima de R$ 2 bilhões nos primeiros nove meses do ano passado. Esperamos assim que feche o ano com receitas em torno de R$ 2,5 bilhões a R$ 3 bilhões.

Em: Oi – Release de Resultados 3T2023

Em relação a custos, a empresa não apresenta os seus custos por segmento de negócio, apresenta apenas os custos totais e, por isso, não nos é possível conhecer os custos com a Oi Soluções ou a Oi Fibra nem a rentabilidade de cada uma das unidades de negócio.

No total da operação no Brasil a Oi registrou custos de R$ 2,7 bilhões no 3T 2023 e R$ 7,3 bilhões nos primeiros nove meses de 2023. O EBITDA de Rotina foi negativo em R$ 331 milhões no 3T 2023 e negativo em R$ 9 milhões nos primeiros 9 meses do ano passado.

Fazendo um exercício com base nas contas do 3T 2023, de como poderiam ficar as contas da Oi – Receitas e Custos – sem a Oi Fibra, sabendo que os custos com a Oi Fibra serão altos, mas não conhecendo o seu valor exato, vamos assumir na nossa projeção (otimista) que os custos da Oi Fibra serão iguais a toda a receita Oi Fibra e que a empresa ainda conseguiria poupar mais R$ 100 milhões de seus custos sem a operação de Fibra. Teríamos então os seguintes valores:

  • Receita 3T2023 sem Oi Fibra: R$ 2.397 mi – R$ 1.116 mi = R$ 1.281 mi
  • Custo 3T2023 sem Oi Fibra: R$ 2.728 mi – R$ 1.216 mi = R$ 1.512 mi
  • EBITDA de Rotina 3T2023 sem Oi Fibra: R$ – 231 mi

Teremos assim uma Receita total Brasil, sem Oi Fibra, de R$ 1.281 milhões e um Custo que reduziria para R$ 1.512 milhões. O EBITDA de Rotina continuaria negativo em R$ 231 milhões, sendo que no 3T de 2023 foi de R$ 331 milhões.

Aplicando os mesmos cálculos aos primeiros nove meses de 2023, considerando uma poupança de custos de R$ 300 milhões além do valor da receita Oi Fibra, chegaríamos aos seguintes valores:

  • Receita 9M2023 sem Oi Fibra: R$ 7.336 mi – R$ 3.323 mi = R$ 4.013 mi
  • Custo 9M2023 sem Oi Fibra: R$ 7.345 mi – R$ 3.623 mi = R$ 3.722 mi
  • EBITDA de Rotina 9M2023 sem Oi Fibra: R$ 291 mi

Neste caso, projetando este exercício aos primeiros nove meses de 2023, chegaríamos num resultado positivo em R$ 291 milhões. Importa ainda ressaltar que a receita da venda do negócio de fibra iria amortizar a dívida e reduzir o encargo com juros.

Em nossa opinião, sem a Oi Fibra e com base nos números do exercício acima, poderíamos esperar uma Receita anual de R$ 5,3 bilhões, um Custo próximo a R$ 4,9 bilhões e, portanto, alcançando um EBITDA de Rotina próximo de R$ 400 milhões. Esta projeção considera todos os atuais segmentos de negócio, excluindo apenas a Oi Fibra.

O Futuro sem a Oi Fibra

Sem a unidade de negócio de Fibra, a companhia resultante seria uma empresa completamente diferente. Ficaria mais pequena, orientada ao setor corporativo, atuando num mercado competitivo e com bastantes players. Como ponto positivo temos o desempenho de receitas que a Oi Soluções vem registrando, esperando que tenha vantagens competitivas relevantes e reconhecidas pelo mercado. As contas operacionais e o caixa da Oi passariam a depender da rentabilidade deste segmento de negócio.

Se com as vendas da participação na V.tal e da ClientCo (unidade de fibra) a Oi conseguisse pagar a totalidade dos cerca de R$ 15 bilhões resultantes das suas dívidas pós reestruturação, correspondentes a R$ 4 bilhões do Dinheiro Novo e R$ 10,75 bilhões da dívida RollUp, entregando resultados positivos, a dívida ficaria administrável. Não conseguindo que esses ativos quitem essas dívidas a situação continuaria difícil.

Como Ficará a Dívida da Oi com o Plano de RJ?

Infelizmente, equacionando a venda da Oi Fibra, a Oi só vem evidenciar algo que vimos questionando há muito: a operação de fibra não é rentável por ter custos muito elevados com a V.tal. Só isso explica que a Oi tente vender a unidade de negócios de fibra para amortizar empréstimos (Novo Dinheiro e RollUp) com juros previstos de 10% e 5%, respetivamente. Caso a Oi Fibra liberasse uma margem superior a 10% não teria sentido a gestão da empresa encarar essa possibilidade de venda nesta fase. O anúncio de intenção de venda daquela que era a principal estratégia da empresa, onde investiu bilhões nos últimos anos, só demonstra que essa operação não é rentável e o falhanço de toda a estratégia.

Que Alternativas Existem para a Oi?

Em nossa opinião, existem 3 cenários principais para o futuro da Oi:

  • Oi Mais Pequena mas Sustentável – A Oi vende a Oi Fibra e a participação na V.tal por um preço razoável, o que significaria valores acima dos R$ 16 bilhões, consegue quitar as suas dívidas principais e, com uma operação rentável da Oi Soluções, apesar de resultar uma empresa mais pequena, consegue a sua sustentabilidade no longo prazo.
  • Falência – A Oi Fibra e a participação na V.tal são vendidas por valores que não permitem quitar a dívida principal e, mesmo com uma operação Oi Soluções positiva, não libera caixa suficiente para fazer face à dívida e o esperado seria a falência. O mesmo aconteceria com uma operação Oi Soluções negativa.
  • Oi Continua com Fibra – Vendendo apenas a participação na V.tal, mantendo a Oi Fibra como o seu principal negócio, continuando a investir neste segmento, mas negociando condições que permitam uma operação rentável com a V.tal – passo fundamental – e negociando condições com os credores que permitam um plano de negócios capaz de suportar o custo com juros (serviço da dívida) e os reembolsos de capital. Com uma operação de fibra rentável a Oi poderia tornar-se sustentável e isso depende sobretudo do custo com a V.tal.

A questão que fica, relativamente à fibra, é se não seria uma melhor solução, para a Oi e para a V.tal, encontrar um entendimento que viabilize a rentabilidade da operação de fibra, permitindo à Oi liberar caixa para pagar sua dívida e tornar-se viável. É inacreditável que a V.tal prefira perder a Oi como cliente para o substituir por um comprador que, certamente, vai renegociar para melhorar as condições atuais. Incompreensível seria ainda se a Oi vendesse a sua unidade de Fibra e mantivesse encargos futuros referentes a essa unidade de negócio com a V.tal e Globenet.

Além de tudo o exposto, um acordo com o TCU/ANATEL que resulte, pelo menos, num zero a zero, anulando a dívida de R$ 7 bilhões com a ANATEL, é também fundamental para viabilizar a Oi.

Por último, quem viabilizará ou não a Oi será a assembleia de credores, aguardada para fevereiro, com a aprovação de um plano. Esperemos que uma solução seja encontrada e que, finalmente, após duas recuperações judiciais, a Oi encontre sua sustentabilidade no longo prazo.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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