Como Ficará a Dívida da Oi com o Plano de RJ?

Ainda sem novidades quanto ao fechamento de um acordo com os credores, o plano de recuperação apresentado em maio permite projetar que dívida resultará do plano e entender como cada componente será afetada.

Na tabela abaixo podemos ver o endividamento da Oi conforme apresentado nos resultados do terceiro trimestre de 2023. Este plano de recuperação incidirá, principalmente, na dívida das três primeiras linhas, ou seja, Bancos Locais, ECAs e Bonds Qualificados – os principais credores financeiros – que, em conjunto, representam cerca de R$ 30 bilhões da dívida da Oi (valor de face). As restantes parcelas de dívida pouco ou nada serão afetadas pelo plano.

Em: Oi Press Release de Resultados 3T2023

No ponto 4.2. Créditos Quirografários – Classe III do plano são detalhadas as duas opções de reestruturação.

A opção de reestruturação 1 (ponto 4.2.2 do plano) é destinada aos credores que aceitem participar num novo crédito chamado “Dinheiro Novo”, no valor total de R$ 4 bilhões. Esses credores terão até R$ 10,75 bilhões convertidos em nova dívida denominada Dívida “Roll-Up”. Os credores que não aportem novo dinheiro serão considerados na opção de reestruturação 2 (ponto 4.2.3 do plano) e terão 30% de sua dívida convertida em nova dívida denominada Dívida “A&E Reinstated”. A dívida de ambas as opções não convertida em nova dívida será convertida em até 80% do capital da empresa, ou seja, ações da Oi.

Nota: Para simplificar não vamos entrar nos detalhes dos backstopers.

Teremos então três componentes de dívida resultantes do plano:

  • Dinheiro Novo
    • Novo crédito no valor de R$ 4 bilhões, com um primeiro crédito que é um “adiantamento” (DIP financing) no valor de US$ 400 milhões – já contratado junto dos credores conforme comunicado em 20 de dezembro de 2023.
    • Este crédito terá um acordo de backstop, ou seja, credores que assegurarão o crédito em caso de outros não aderirem.
    • Vencimento: Junho 2027.
    • Juros: 10,0% juros cash; ou 7.5% juros cash + 6,0% juros PIK (acumulam ao valor em dívida).
  • Opção 1 – Dívida “Roll-Up” – Credores que proverem “Dinheiro Novo”
    • A dívida destes credores (a valor de face) será convertida em nova dívida garantida até um montante máximo de R$ 10,75 bilhões.
    • O crédito remanescente será convertido em capital da empresa, juntamente com os créditos remanescentes da Opção 2, até 80% do capital da Oi.
    • Vencimento: 4,5 anos após o fechamento – Estimativa Dezembro 2028.
    • Juros: 5,0% juros Cash; ou 0,5% juros cash + 8.0% juros PIK
  • Opção 2 – Dívida “A&E Reinstated” – Credores que não proverem “Dinheiro Novo”
    • 30% do valor de face da dívida destes credores será convertida em novo instrumento de dívida garantida.
    • O crédito remanescente (70%) será convertido em capital da empresa, juntamente com os créditos remanescentes da Opção 1, até 80% do capital da Oi.
    • Vencimento: 10 anos após o fechamento – Estimativa 2034.
    • Juros: 80% CDI juros PIK (acumulam ao capital em dívida) sujeito a limite de até 8%.

Estes novos títulos de dívida passam a ter como garantia a participação da Oi na V.tal e as unidades de negócio de fibra (ClientCo) e Oi soluções. O valor resultante da venda da participação da Oi na V.tal, total ou parcial, terá como destino o pagamento das dívidas “Dinheiro Novo” e “Roll-Up”, o mesmo sucedendo com a venda de parte da ClientCo ou de outros ativos como imóveis. A dívida Opção 2 – “A&E Reinstated” tem garantia apenas sobre as ações da Oi na V.tal em third lien (após prioridade das dívidas “Dinheiro Novo” e “Roll-Up”).

Que Dívida resultará deste Plano?

Na tabela abaixo efetuamos a nossa projeção tendo por base a dívida apresentada nas contas do terceiro trimestre de 2023. Considerámos que a dívida dos Bancos Locais será convertida pela Opção 2 e ECAs + Bonds Qualificados pela Opçâo 1 – que aportam um novo crédito “Dinheiro Novo”. Teremos assim, o valor da dívida dos Bancos Locais reduzida a 30% do valor de face inicial e as outras duas parcelas reduzidas a R$ 10,75 bilhões (R$ 5,375 bilhões cada).

Teremos ainda uma nova parcela correspondente ao novo empréstimo “Dinheiro Novo” no valor de R$ 4 bilhões. Esta parcela englobará o valor do DIP Loan.

Projeção da Dívida Pós Plano com base na Dívida do 3T2023 (valor de face)

Cada credor poderá optar entre as duas opções de reestruturação, porém, para simplificação, no nosso exercício considerámos as opções pela totalidade de cada tipo de credor. Obviamente, cada parcela engloba vários credores e cada um poderá terá uma opção diferente. No entanto, o novo crédito resultante da opção 1 está limitado a R$ 10,75 bilhões o que facilita a estimativa.

Em resumo, teremos as seguintes alterações tendo por base o nosso exercício:

  • Resultante da Opção 1 – Roll-Up (ECAs + Bonds Qualificados):
    • R$ 18,3 bi reduzido para R$ 10,75 bi
  • Resultante da Opção 2 – A&E Reinstated (Bancos Locais):
    • R$ 11,47 bi reduzido para R$ 3,5 bi
  • Novo Dinheiro (o novo crédito):
    • R$ 4 bilhões

No total, a nova dívida calculada pela nossa estimativa seria de R$ 24 bilhões em vez dos R$ 36,7 bilhões, no entanto, importa lembrar a entrada em caixa de um novo crédito de R$ 4 bilhões.

Como a Oi vai pagar a Dívida?

A nova estrutura de dívida resultante do acordo prevê pagamentos muito exigentes para o caixa da Oi em 2027 e 2028. Abaixo as nossas estimativas de datas de pagamento considerando juros pagos ao longo do período (cash) para o “Dinheiro Novo” e “Roll-Up”:

  • Junho 2027 – Pagamento “Dinheiro Novo”
    • R$ 4 bilhões
  • Dezembro 2028 – Pagamento “Roll-Up”
    • R$ 10,75 bilhões
  • Junho 2034 – Pagamento “A&E Reinstated”
    • R$ 3,5 bilhões + juros

O plano prevê a amortização antecipada dos créditos “Dinheiro Novo” e “Roll-Up” com a venda de ativos como a participação da Oi na V.tal, a ClientCo e imóveis. No nosso entendimento, fica claro que o novo plano de recuperação sustenta a viabilidade do pagamento da nova estrutura de dívida na venda da participação na V.tal.

Apesar do corte no valor da dívida dos credores em aproximadamente 50% na opção 1 e de 70% na opção 2, com o novo crédito de R$ 4 bilhões e as novas condições de dívida, o valor bruto total da dívida da Oi continuará a representar um valor significativo. O maior ganho da companhia será o alongamento dos prazos de pagamento e um novo crédito de valor substancial. Tudo isto em troca de 80% das ações da companhia. Adicionalmente, é preocupante ver que a companhia continua queimando caixa e a sua operação de fibra não é capaz de entregar resultados sólidos.

Esta estimativa foi realizada com base nas informações do plano já apresentado. Aguardaremos que um acordo com os credores seja finalizado para avaliar que alterações trará e com que impacto.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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