Tchau Oi – Era uma vez um investimento de bilhões que virou pó

Era uma vez, é assim que muitas histórias começam, umas acabam bem, outras nem tanto. Era uma vez um investimento de muitos bilhões. E esta é uma história que não acabou bem.

Em outubro de 2021, há menos de 2 anos, a empresa portuguesa Pharol reforçava a sua participação na Oi para 5,36% afirmando “mantém elevada confiança nos resultados da recuperação estratégica da sua participada brasileira e considera que o reforço da participação na Oi, aos atuais níveis de preços, apresenta interessante oportunidade de criação de valor para a Pharol e seus acionistas”. Pois é, a Oi pode ter criado valor para alguns, mas não foi certamente para os acionistas da Pharol nem para a maioria dos acionistas da Oi.

Tudo começou com o Baby

Vamos voltar bem atrás no tempo para conhecer a Pharol. Esta empresa portuguesa, que hoje não tem nada além de ações da Oi e títulos de dívida “podres” após a falência do Grupo Espírito Santo, ficou com o que resta do grupo Portugal Telecom. Entre outras inovações, a Portugal Telecom, através da sua operadora móvel, foi a primeira operadora mundial a desenvolver e lançar um celular pré-pago ao qual chamou Mimo e que estreou em Portugal no dia 7 de setembro de 1995.

Entre outros investimentos em África e na Ásia, em 1998 a Portugal Telecom comprou no Brasil a Telesp Celular. Um ano depois, em 1999, adaptou o pré-pago português Mimo, chamando Baby ao primeiro celular pré-pago do Brasil. E o Baby foi um sucesso, não parou de crescer e o Brasil não mais parou de falar ao celular. Em 2005, 81% dos 76,6 milhões de celulares existentes no Brasil eram pré-pagos.

Da Vivo à Oi

Em 2003, a Portugal Telecom e a Telefónica uniram os seus ativos de telefonia móvel no Brasil e juntas criaram a Vivo.

Em 2010 a Portugal Telecom vendeu a sua participação na Vivo à Telefónica por $ 9,75 bilhões de dólares norte-americanos. Na sequência dessa venda, e porque a Portugal Telecom pretendia continuar investindo no mercado brasileiro, comprou uma participação na Oi. O acordo previa a compra de 22,4% da Oi por R$ 8,44 bilhões.

Em 2013, a Oi e a Portugal Telecom assinaram acordo para fusão das duas empresas. Após aumento de capital, a Portugal Telecom ficou com uma participação de 39,7%.

Após um investimento desastroso em que colocou quase toda a sua liquidez em títulos de dívida da Rio Forte – empresa do grupo português Grupo Espírito Santo (GES) – em 2014 a Portugal Telecom perdia 900 milhões de euros com a falência do GES. Com esta perda afetando também a Oi, a participação da Portugal Telecom foi reduzida, ficando com 27,48% da Oi.

Como ironia adicional da história, em 2015 a Oi vendeu os ativos da Portugal Telecom em Portugal por 7,4 bilhões de euros à Altice, ou seja, vendeu os ativos da empresa com a qual se estava fundindo.

A Recuperação Judicial da Oi e a diluição de 27% para 4%

Em 2016 a Oi entra em processo de Recuperação Judicial, sendo aprovado em dezembro de 2017 o Plano de Recuperação Judicial. A 20 Julho de 2018, após a homologação do aumento de capital previsto no Plano de Recuperação Judicial, através da conversão de dívida em ações que diluiu os acionistas da época em 72%, a Oi passou de 825.760.902 ações para um total de 2.340.060.505 ações representativas do capital social. Em consequência, a participação da Pharol sofreu uma diluição para menos de 8% da companhia.

Em 9 de Janeiro de 2019, no âmbito de um aumento de capital por Entrada de Novos Recursos, a Oi passou para um total de 5.954.205.001 ações representativas do seu capital social. A participação da Pharol, mesmo tendo acompanhado parcialmente o aumento de capital, ficou diluída para menos de 4%.

Em Abril de 2019, Oi e Pharol homologam um acordo colocando fim aos seus litígios, passando a Pharol a deter uma participação de 5,51% do capital social da Oi. Na sequência desse acordo, o CEO da Pharol, Luís Palha da Silva, voltou a assumir a cadeira de administrador da Oi. Ocuparia essa posição até novembro de 2022 quando renunciou ao cargo.

Desistindo da Oi em 2022 e 2023

Em 2022, a Pharol começou reduzindo a sua participação na Oi, tendo alienado parte das suas ações e terminado o ano com uma participação de 2,2%.

Na apresentação de resultados do primeiro semestre de 2023 a Pharol refere:

“A evolução mais recente do desempenho operacional e financeiro da Oi e, em particular, o recurso a novo processo de recuperação judicial, com a divulgação de uma surpreendente dimensão do passivo e de planos de agressivo haircut na dívida e forte diluição dos atuais acionistas, apontavam para uma tendência inelutável de desvalorização bolsista. Em consequência, a Pharol, reduziu a participação que detinha naquela empresa ao longo do primeiro semestre de 2023, até ao nível que detém hoje, de 0,18% do capital.”

Em 30 de Junho de 2023, a Pharol detinha 1.092.584 ações ordinárias da Oi, representativas de 0,18% do respetivo capital social (sem ações de tesouraria), com o valor de 217 mil Euros.

O Fim

A Pharol terminou o primeiro semestre de 2023 com um ativo de 86 milhões de euros, incluindo 51 milhões de euros que são o valor que espera um dia vir a receber pela liquidação do Grupo Espírito Santo, em processos que correm nos tribunais de Portugal e do Luxemburgo.

Em 2010 uma ação da Portugal Telecom/Pharol valia cerca de 10 euros. Hoje vale aproximadamente 0,05 euros. Tal como os acionistas da Oi, muitos pequenos acionistas da Pharol viram os seus investimentos virar pó.

Poderíamos perguntar porque a Pharol foi pega de surpresa com a situação que levou à nova recuperação judicial da Oi, ainda mais quando o seu CEO fazia parte da administração da companhia, cargo que ocupou até novembro de 2022. No final de 2021, o entendimento era de “confiança nos resultados da recuperação estratégica” da Oi, menos de dois anos após, afirma surpresa com a “dimensão do passivo“. Importa ainda lembrar que a Oi é o maior acionista da Pharol com 10% das ações da empresa.

E assim termina a história. Em breve, se não vender antes o que sobra da sua participação, os 0,18% da Pharol na Oi serão diluídos a muito menos por conta da conversão de dívida em até 80% do capital da empresa.

Era uma vez uma empresa multinacional de telecomunicações, que chegou a valer bilhões de reais, com ativos em Portugal, África, Ásia, que foi dona de metade da Vivo, que comprou uma participação na Oi por R$ 8,4 bilhões e que acabou reduzida a nada.

Nem sempre que lemos “Era uma vez” temos uma história com um final feliz, ainda assim, seguimos esperando que a Oi saia bem dessa nova recuperação judicial.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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