Rodrigo Abreu o ilusionista da Oi?

Os últimos tempos da Oi têm sido repletos de ilusão e desilusão. Rodrigo Abreu, que está sentado no comando da companhia há 3 anos, como tal, é o principal responsável pelos destinos da empresa e por todas as ilusões e desilusões. Apesar de todos os fatores externos que a gestão da empresa aponta como as principais causas da situação e que levaram à segunda recuperação judicial, muitos sinais contraditórios foram dados por quem está à frente da companhia podendo ter induzido muitos em erro.

Gestores Milionários e a Esperança na Nova Estratégia

Recentemente conhecemos como a Oi, enquanto caminhava para a ruina, foi enchendo os bolsos de muitos dos seus gestores. O processo recente da CVM veio expor que numa fase onde as contas da empresa já não eram saudáveis, os seus gestores atribuíam a si próprios chorudos bônus de muitos milhões.

Oi: A máquina de criar Milionários

Rodrigo Abreu assumiu a Oi em 2020, já com o processo da primeira recuperação judicial da companhia em andamento. O seu currículo e experiência no setor trouxeram esperança à Oi de que uma empresa viável poderia finalmente virar uma realidade. A empresa passou a ter uma visão estratégica com foco na fibra e um plano de negócio credível, reconhecido pelo mercado e por todos os seus stakeholders.

“Multiplicar de Valor Algumas Vezes” – A Multiplicação que virou Divisão

No final de 2020, a expectativa comunicada por Rodrigo Abreu com a implementação do plano de transformação da companhia, era que a Oi pudesse “se multiplicar de valor algumas vezes”. Isso foi dito pelo próprio Rodrigo Abreu numa entrevista à Genial Investimentos em 15 de outubro de 2020 (acesse aqui a entrevista no YouTube – minuto 22:55). Claro que era uma opinião, porém era a opinião do responsável máximo da empresa e foi amplamente divulgada pelos mídia: Oi vai multiplicar valor, diz Rodrigo Abreu (Teletime, 19-10-2020).

Olhando onde o plano nos trouxe, parece que Rodrigo errou o sinal. O valor da Oi não multiplicou, porém dividiu sim várias vezes. Em dois anos a Oi perdeu 90% do seu valor de mercado.

Claro que existiram fatores exógenos que contribuíram negativamente para o insucesso da Oi, mas boa parte da responsabilidade está no colo de quem dirigiu a companhia. Já aqui escrevemos também sobre vários exemplos de atrasos, demora e descaso das autoridades públicas que certamente deram o seu contributo para a situação da companhia: Oi: 1 Milhão de acionistas investindo no futuro do Brasil (e gente atrapalhando)

As projeções da Oi sempre com Miopia

As projeções da Oi, que a realidade insiste sempre em desmentir por larga margem, são inacreditáveis de tanto que erram. Vale a pena recordar o que Rodrigo Abreu previa em julho de 2021 para os anos seguintes da companhia: Nova Oi terá receitas de R$ 15,5 bi em 2024.

Ao que parece, as dificuldades históricas da Oi de Rodrigo Abreu com as projeções ainda se mantêm. Olhando as projeções publicadas recentemente nos blow out de negociações com credores, com apenas algumas semanas de distância entre elas, veja como a receita prevista dos anos de 2023 e seguintes se altera (para pior):

Anexo ao Fato Relevante (“Term Sheet da Reestruturação”) – 2-3-2023
Fato relevante Blow out negociações com credores – 21-4-2023

Venda da V.tal – O ponto de viragem da Oi

A divulgação dos detalhes do negócio de venda de parte da V.tal ao BTG marcaram o fim do otimismo na estratégia da Oi. Conforme analisámos anteriormente, com as condições do negócio fechadas, não entrou no caixa da Oi o dinheiro necessário para a amortização da dívida, em vez dos 49% a Oi acabou ficando com apenas 34% e em vez de dinheiro ainda “recebeu” a Globenet que viria a integrar a V.tal.

Venda da V.tal – Globenet ou GOLPE net na RJ da Oi?

Surpresa! Globenet vale R$ 1,5 bi mas receberá R$ 10 bi da Oi até 2028

Este negócio foi o balde de água gelada que desiludiu o mercado. Daí para a frente, a Oi entrou na fase de queda e a sua gestão começou a produzir “ilusionismo”. Talvez por saberem que a realidade já não era compatível com o sonho que haviam divulgado.

Em dezembro de 2022 a Oi era “Uma Empresa de Futuro”

“A aposta que a companhia fez de virar todo o seu campo de estratégia para a fibra, para criar uma empresa viável no futuro, se mostrou uma aposta acertada, se mostrou uma direção de tendência que efetivamente aconteceu. É uma ajuda ao nosso caso e permite que a gente vislumbre uma empresa de futuro, de longo prazo, que tem valor e que está num mercado sustentável.” Estas palavras são de Rodrigo Abreu, em entrevista à Genial investimentos a 7 de dezembro de 2022 (acesse aqui no Youtube – minuto 11:45). Queremos ressaltar a última parte: “uma empresa de futuro, de longo prazo, que tem valor e que está num mercado sustentável”. Menos de 2 meses depois a Oi estava pedindo tutela de urgência cautelar afirmando não ter como pagar aos seus credores. O longo prazo de Rodrigo Abreu era afinal bem curto. O futuro da empresa era afinal pura ilusão.

Relatório de Viabilidade – A ilusão que rapidamente virou desilusão

O relatório atestando a capacidade econômico-financeira para três anos, quando afinal a empresa não demorou três meses a declarar-se “inviável”, foi um notável truque de ilusionismo de muito mau gosto. A ilusão do relatório prometia 3 anos, porém, a realidade da Oi não duraria nem 3 meses a virar uma tremenda desilusão.

Analisámos e demonstrámos aqui como esse relatório inflacionou as receitas, considerando R$ 2,4 bilhões que não cairiam no caixa da Oi, e como subavaliou as despesas, omitindo um pagamento milionário de R$ 9 bilhões em 2025 correspondente aos Bonds 2025. Sem essas “ilusões” a conclusão do relatório seria totalmente diferente.

Buraco de 3,7 bi no Relatório de Viabilidade Econômica da Oi – Quem Errou? ou Quem Enganou Quem?

Mais dúvidas sobre o duvidoso Relatório de Viabilidade duvidosa da Oi

Fim da RJ – O sucesso de ilusão

Com o fim da recuperação judicial, a palavra sucesso foi várias vezes utilizada para adjetivar o processo de recuperação terminado. Recorrendo ao dicionário para consultar o significado da palavra sucesso temos: Algo ou alguém que obteve êxito.

Um êxito, ou sucesso, seria a empresa sair viável do seu processo de recuperação judicial ou estamos enganados? A empresa entrou num processo de recuperação judicial porque se encontrava num autêntico buraco e em risco de falência. Se esse processo conduziu a outro buraco e ao mesmo risco de falência, poderemos adjetivar a RJ de sucesso? Falar de sucesso não parece outra coisa além de uma tentativa de ilusão de muito mau gosto.

Mais ilusão com o novo plano de recuperação judicial?

Queremos muito acreditar que os truques de ilusionismo já chegaram ao final, porém, o laudo econômico-financeiro que acompanha o novo plano de recuperação judicial, apresentado em 20 de maio de 2023, não nos deixa com essa tranquilidade. Uma avaliação da V.tal em R$ 100 bilhões só pode ser pura ilusão. A EY, que assinou o relatório, deixou bem claro que não tinha qualquer responsabilidade na avaliação de ativos apresentada e que esses números eram da exclusiva responsabilidade da Oi.

Oi avalia V.tal em absurdos 100 bi e outras Surpresas amargas no novo plano de RJ

Queremos um Futuro Diferente, Sem ilusionismo

Muitos poderão pensar que estes são temas do passado. E são. Porém, são um passado muito recente, afetando todos os acionistas com enormes perdas e que não queremos que se repita.

Chega de ilusionismo na Oi! Queremos acreditar que Rodrigo Abreu será finalmente capaz de multiplicar o valor da empresa, limpando essa mancha do seu currículo que foi levar a empresa de uma RJ para outra. A viabilidade do novo plano da Oi deixa ainda dúvidas, sobretudo com a venda de ativos (V.tal e ClientCo) e pagamento da dívida com vencimento em 2027/2028 (créditos “Dinheiro Novo/DIP” e “Roll-Up”) que totalizam mais de R$ 15 bilhões. Sem ilusões, a Oi deve uma clarificação aos acionistas e ao mercado.

Uma mensagem para Rodrigo Abreu

Para finalizar, gostaríamos de deixar uma mensagem para Rodrigo Abreu em nome de muitos pequenos acionistas: Esperamos que com a nova RJ não perca a oportunidade de registrar a Oi como um case de sucesso em seu currículo, demonstrando ser capaz de dirigir a companhia da quase falência à viabilidade e sustentabilidade. A alternativa seria assumir ser o coveiro da Oi, algo que, mesmo com o sucesso da V.tal ou de outras spinoff da Oi, ficaria para sempre como uma mancha em seu currículo, com a ruína de uma empresa com dimensão nacional. O desafio é salvar a Oi!

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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