Oi avalia V.tal em absurdos 100 bi e outras Surpresas amargas no novo plano de RJ

Que Oi é sinónimo de surpresas a gente já sabe. No novo plano de recuperação judicial apresentado não desiludiu e achámos algumas surpresas amargas. O laudo econômico-financeiro, elaborado por uma empresa altamente prestigiada, tem um tom muito prudente e cauteloso deixando bem claro que os dados considerados foram fornecidos e são da responsabilidade da Oi. Os pontos que detalhamos abaixo são, de certa forma, um balde de água fria nas expectativas, pelo menos, até que exista uma clarificação por parte da empresa.

Leia também os principais pontos do plano de recuperação judicial apresentado pela Oi no passado dia 20 de maio de 2023: Os 5 pontos fundamentais do novo plano de recuperação judicial da Oi

V.tal avaliada em R$ 100 bilhões

A primeira surpresa vem do valor de avaliação da V.tal. No laudo econômico-financeiro anexo ao novo plano de recuperação judicial, a Oi prevê vender 14,6% da participação na V.tal por R$ 14,4 bilhões em 2026 e 2027. Isso significa que a Oi avalia o valor de mercado da V.tal em algo em torno de 100 bilhões. Parece um valor absurdo! Recordamos que ainda há alguns meses um fundo canadense investiu na V.tal com um aporte que avaliou a empresa em algo próximo de R$ 30 bilhões. A menos que a empresa mais do que triplique, não entendemos como é que a Oi pode avaliar a V.tal em R$ 100 bilhões, tampoco como poderá vender cerca de 15% do capital por quase R$ 15 bilhões.

Esta venda será uma componente altamente crítica na viabilidade do novo plano de recuperação. O seu valor permitirá pagar os novos créditos Novo DIP e Roll-Up que somam cerca de R$ 15 bilhões. Será por estar ciente do irrealismo desta avaliação que a Oi já orientou todo o seu plano no sentido de possibilitar a venda de qualquer um dos seus ativos, incluindo mais do que 40% da ClientCo e a Oi Soluções?

Este plano é bem claro no sentido de autorizar a Oi a vender qualquer ativo da empresa – sugerimos a leitura do ponto “3.1.3. Alienação e Oneração de Bens do Ativo Permanente” na página 22 do plano de recuperação. Resta aguardar os comentários da empresa.

Mais uma redução oculta da participação na V.tal?

Outra surpresa amarga chega também da V.tal. Já sabemos como a relação entre a Oi e a V.tal tem sido cheia de surpresas, sobretudo desde que o BTG praticamente ganhou a V.tal de presente o que, no nosso entendimento é uma das principais causas da situação em que a Oi se encontra. Ao que parece, os presentes ainda não acabaram. Na página 37 do Laudo Econômico-Financeiro podemos ler:

“A linha “Venda V.tal” apresenta os valores estimados pela Companhia a serem recebidos pela venda de sua participação na V.tal. Essa projeção já considera a diluição de sua participação de 3,7% em julho de 2023, resultando em uma participação de 30,4% da Oi na V.tal, além de uma possível diluição significativa prevista para 2024, conforme o SPA assinado entre as partes.”

Em: EY – Laudo Econômico-Financeiro Oi – 19-5-2023 – página 37

Que um acordo iria diluir ainda mais a participação da Oi na V.tal, entregando mais um pouco da participação para o BTG e reduzindo para cerca de 30% a participação da Oi, já havia notícias, mas uma diluição “significativa” prevista para 2024 é algo totalmente novo! É mais um presente da Oi? E de quanto será essa diluição? Será que a Oi só considera vender 14,6% da V.tal porque será essa a sua participação depois dessa “significativa” diluição? Estará previsto um IPO para 2024 e será essa a causa da diluição? De qualquer modo, não conseguimos achar o racional para valorizar a V.tal em R$ 100 bilhões. Fica mais uma dúvida.

Financiamento adicional necessário em 2026?

Na página 42 do laudo, após o quadro Fluxo de Caixa Consolidado (tabela 8), podemos ler o seguinte comentário: “Em 2026, a Companhia necessita de captações para manter seu caixa mínimo operacional.”.

Esperamos que esta necessidade seja ultrapassada e não se concretize. Após toda a reestruturação de dívida, com financiamentos adicionais volumosos que este plano implica, chegar a 2026 e necessitar de captações adicionais poderá ser um grave problema para a companhia.

Arbitragem Oi Móvel: Oi espera não receber o R$ 1,5 bilhão?

Outra das aparentes surpresas amargas vem da arbitragem relativa à disputa pela venda da Oi Móvel e pelos R$ 1,5 bilhão que as compradoras não pagaram à Oi. Recordamos que TIM, Claro e Vivo não pagaram à Oi a última parcela do negócio retendo esse valor e alegando incumprimentos por parte da Oi. Esse R$ 1,5 bilhão, após decisão judicial, foi depositado em juízo em outubro de 2022 e está aguardando o desfecho do processo de arbitragem.

No texto do laudo podemos ler: “Resolução dos processos de arbitragem relacionados à alienação da UPI Móvel de maneira a não gerar desembolsos adicionais para a Oi” (página 43). Significa que a Oi não espera desembolsar qualquer valor adicional para compensar os compradores, mas que também não espera receber o R$ 1,5 bilhão, ou sequer qualquer parte desse valor?

Esperamos que este ponto não seja o que parece e que a Oi consiga reaver pelo menos a maior parte desse R$ 1,5 bilhão. A administração da Oi sempre foi muito firme ao discordar das razões apontadas pelos compradores da Oi Móvel em não pagar a última parcela. Recordamos parte do texto do fato relevante de 19-9-2022:

“a Companhia informa ao mercado que discorda veementemente do Valor do Ajuste Pós-Fechamento pelas Compradoras, e entende que o cálculo do Valor do Ajuste Pós-Fechamento pelas Compradoras apresenta erros procedimentais e técnicos, havendo equívocos na metodologia, nos critérios, nas premissas e na abordagem”

Esperemos que a gestão da Oi não tenha cometido mais um erro que venha a custar esse R$ 1,5 bilhão à empresa.

EY Prudente e Cautelosa

A EY – antiga Ernst & Young – é uma consultora internacional com elevada reputação no mercado financeiro, sendo mesmo uma das mais prestigiadas a nível mundial. Foi a EY que elaborou o laudo Econômico-Financeiro anexo ao novo plano de recuperação da Oi. Não podemos deixar de ressaltar as cautelas e justificativas que a EY utiliza repetidamente ao longo do texto do laudo, sublinhando que a maioria dos dados utilizados são da responsabilidade da Oi e não sua.

Conhecemos bem o historial recente da Oi com o relatório econômico-financeiro atestando 3 anos de viabilidade para a Oi e também sabemos o que aconteceu pouco tempo depois. Importa referir que esse relatório não foi elaborado pela EY. Também acreditamos que nenhuma empresa de prestígio queira ficar associada a um episódio desses.

Por várias vezes no texto a EY se mostra bastante prudente e defensiva relativamente aos valores apresentados, indicando ser a Oi e não a própria EY a fonte desses números:

“Este Laudo foi feito com base em informações públicas de conhecimento do mercado e em informações e premissas disponibilizadas pelo Grupo Oi, as quais foram consideradas verdadeiras, uma vez que não faz parte do escopo de trabalho da EY qualquer tipo de investigação independente e/ou procedimento de auditoria. Desta forma, a EY não assume qualquer responsabilidade pela imprecisão dos Dados, Premissas e Informações utilizados neste Laudo;” (página 3)

“…foram fornecidas pelo Grupo Oi, de forma que qualquer omissão representativa de um fator chave por parte da Companhia pode vir a afetar os resultados do presente trabalho.”

A EY deixa ainda bem claro que as avaliações consideradas, nomeadamente da V.tal e ClientCo, são da responsabilidade da Oi e não suas:

“Não faz parte do escopo de trabalho da EY a revisão ou investigação das premissas utilizadas para determinação dos preços de venda da UPI ClientCo e participação na V.tal. Desta forma, a EY não assume qualquer responsabilidade por eventuais diferenças de valor utilizados neste laudo para os que venham a ser concretizados nas eventuais futuras negociações.” (página 5)

“Este Laudo também não contempla uma avaliação independente da EY sobre os valuations das entidades a serem vendidas, notadamente a venda de parte substancial da participação da Oi na V.tal, e da venda de participação acionária na UPI ClientCo, entidade com perímetro ainda a ser definido.” (página 43)

Por fim, a EY chama ainda a atenção para a importância dos fatores externos à Oi, como a negociação com a ANATEL:

“Adicionalmente aos desafios de implementação de seu Plano Estratégico e das dificuldades de sua execução de maneira satisfatória, o êxito na implementação do PRJ depende largamente do desfecho equilibrado de seus pleitos e negociações com órgãos reguladores no âmbito do fim da concessão e dos procedimentos arbitrais.
É importante ressaltar que vários desses eventos não dependem somente da Oi para a sua materialização e os valores projetados pela Companhia poderão sofrer alteração à medida que as negociação para a sua efetivação avançarem.” (página 43)

Toda a prudência da EY no laudo, que chega a parecer exagerada, não nos deixa nada tranquilos sobretudo quanto aos valores de venda de ativos previstos e às restantes projeções. A Oi tem muito ainda a explicar para que possamos considerar esse plano confiável e credível! Até lá, seguimos com dúvidas.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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