O que os Acionistas querem saber: 3 perguntas para a Oi

Recebemos um convite por parte da Oi para endereçar 3 perguntas, de interesse dos seus acionistas, que seriam abordadas durante a call de apresentação de resultados agendada para 27 de abril. Assinalamos com bastante agrado o interesse da Oi em escutar e esclarecer os seus acionistas.

Aceitamos o desafio formulando 3 perguntas, que foram enviadas para a Oi em resposta ao seu convite, tentando endereçar os pontos que mais preocupam os acionistas numa fase muito crítica da empresa, repleta de acontecimentos nos últimos tempos e cheia de eventos previstos também nos tempos mais próximos.

Dividimos as três questões entre o passado recente, o presente e o futuro da empresa. Interessa aos acionistas compreender algumas questões fundamentais no passado recente da empresa, e que não foram devidamente clarificadas, mas que têm muito impacto na situação atual e futura, assim como, saber o que esperar do futuro da empresa. Será que no fim desta nova temporada da novela, que é a nova recuperação judicial, os acionistas verão finalmente surgir uma empresa sólida e viável?

Como introdução e forma de fundamentar melhor cada uma das questões, redigimos um breve enquadramento antes de cada pergunta.

Pergunta 1 – Passado Recente: A venda da V.tal e a situação atual da Oi

O negócio de venda da participação na V.tal – a rede de fibra que a Oi construiu e que era o seu principal ativo – ao BTG deixou muitas dúvidas aos acionistas e é para muitos apontada como a causa da situação atual de crise financeira da empresa. A maior surpresa ocorreu com a redução da participação da Oi, prevista no aditamento ao plano de recuperação judicial (APRJ) em 49% mas que acabou em 34%.

A inclusão da Globenet neste negócio foi também uma surpresa negativa para o mercado, sobretudo porque condicionou fortemente as condições de fechamento do negócio e o valor que entrou no caixa da Oi. O APRJ previa um encaixe mínimo em dinheiro de R$ 6,5 bilhões que acabou não acontecendo (Parcela Secundária em Dinheiro – Parcela Secundária UPI InfraCo). Além disso, foram ainda revelados os montantes do contrato de utilização de longo termo dos ativos da Globenet com um plano de pagamentos próximo de R$ 10 bilhões entre 2022 e 2028, que condicionam fortemente o caixa da Oi no período. Com relação à Globenet importa ainda ressaltar que os acionistas não têm visibilidade sobre a saúde financeira da empresa e seu potencial de geração de valor.

Recordamos as matérias que publicámos sobre este tema:

O negócio de venda da V.tal, apesar de ser um evento passado, tem ainda um forte impacto no presente e no futuro da companhia. Apesar da participação mais reduzida, continua sendo um dos principais ativos da companhia e será a chave para a redução do seu endividamento. Por outro lado, existem ainda pagamentos futuros de valor muito elevado da Oi à V.tal/Globenet com impacto muito relevante nas contas da empresa. E fica sempre a dúvida: Se não existia uma boa proposta, mais valeria não vender.

Qual a responsabilidade na crise financeira atual do negócio de venda da participação na V.tal que resultou numa entrada em caixa abaixo do esperado, numa participação para a Oi bastante inferior à prevista e que incluiu a Globenet – sendo fundamental entender as contas (faturamento, clientes, EBITDA) e potencial futuro da Globenet?

Pergunta 2 – Presente: Sem caixa quando muito recentemente entregou um relatório atestando viabilidade para 3 anos

Os acionistas foram pegos de surpresa quando a Oi solicitou proteção contra credores em 2 de fevereiro de 2023 indicando a preparação de um novo pedido de recuperação judicial. A surpresa decorreu da recente saída da primeira recuperação judicial e do fato de a Oi ter, poucos meses antes, entregue um relatório de viabilidade econômico-financeira comprovando a sua capacidade de cumprir com as obrigações previstas num período de 3 anos.

Na nossa análise ao relatório de viabilidade econômico-financeira encontrámos dois pontos incompreensíveis, um na componente de entradas em caixa, que considerou os valores a serem pagos à Globenet e outro na componente de obrigações, que desconsiderou o pagamentos dos Bonds Qualificados – Notes 2025. Estes dois pontos mudariam completamente a conclusão do relatório.

Acesse abaixo as nossas matérias com análise ao relatório de viabilidade:

Um outro ativo surgiu entretanto nas discussões das últimas semanas: os ativos de cobre da Oi ou a “sucata”. Este ativo representa um valor muito considerável para a companhia e, depois da proposta da V.tal/Globenet, surgiram outros interessados, alegadamente, com propostas de valor superior. Para os acionistas importa saber que o conselho de administração está empenhado em fechar este negócio pelo melhor valor para a companhia. Ainda mais, quando a Oi alega necessitar de um empréstimo urgente para reforçar o caixa necessário para a sua operação e está fechando um empréstimo urgente a juros muito altos.

Após um relatório de viabilidade econômico-financeira atestando a capacidade da empresa em cumprir com suas obrigações por três anos, em pouco tempo, a Oi alegou não ter condições de efetuar o pagamento previsto a credores. Como foi esta situação possível, como ficou a Oi sem caixa para efetuar o pagamento de juros dos bonds previsto em fevereiro de 2023 e que alternativas considerou ao empréstimo DIP com juros de 23%, por exemplo, aceitar as propostas de venda dos ativos de cobre (sucata)?

Pergunta 3 – Futuro: A negociação com credores e a sustentabilidade da companhia nos próximos anos

Por último, o que realmente importa é o futuro, nomeadamente saber o que os acionistas podem esperar da empresa no curto e no longo prazo. No curto prazo, sabemos que a maioria do capital da companhia será entregue aos credores pela conversão de parte da dívida em capital. Por outro lado, um novo crédito aumentará a dívida da companhia.

A nova estrutura de dívida da companhia, que surgirá com o novo plano de recuperação judicial a ser aprovado pelos credores, não nos deixa completamente tranquilos pelo plano de pagamentos que prevê valores muito elevados em 2027/2028. Além disso, a valor justo, corremos o risco de que pouca alteração o novo valor de dívida financeira tenha face ao valor atual.

Por último, mas como ponto crítico fundamental, a grande questão é saber se este será o plano de recuperação que resultará, finalmente, numa Oi viável, sustentável e com crescimento para fazer face às suas obrigações, entregando resultados positivos aos seus acionistas e demais stakeholders.

Que tentativas efetuou a Oi para obter melhores condições e evitar uma diluição que não implicasse a entrega de 80% do capital da companhia aos credores e, ultrapassado o acordo com credores e depois de homologado o novo plano de recuperação judicial, o que esperar da sustentabilidade e crescimento da companhia, considerando os mais de R$ 15 bilhões que a empresa poderá ter de pagar a credores em 2027/2028 – será desta que poderemos esperar a viabilidade “sólida” da Oi?

Por fim, gostaríamos de agradecer à equipe de Relações com Investidores da Oi por esta iniciativa referindo que aguardamos atentamente as respostas que o conselho de administração trará aos seus acionistas.

Recorde outras matérias sobre estes temas:

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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