Oi – A Rainha da Sucata e os Amigos da Ocasião

No fato relevante de 2 de março de 2023, juntamente com as condições negociadas com credores, a Oi apresentou um “amigo” que faria o favor de levar a sucata da empresa. Os amigos são para as ocasiões e, nessa ocasião difícil, é sempre bom saber que há quem ajude. Afinal, como diz o ditado: A ocasião faz o amigo. Se o ditado não é exatamente assim, é algo parecido. Por outro lado, também diz o ditado: esmola demais até santo desconfia.

Não queremos ser santos nem desconfiados, mas a esmola trazia condições. No fato relevante em que revelou as condições negociadas com credores – blow out das negociações – e onde os acionistas ficaram sabendo que perderiam 80% da companhia para os credores, a Oi quis trazer também uma boa notícia: A V.tal e a Globenet iriam ajudar ao plano com um desconto de 50% sobre alguns pagamentos do contrato de longo prazo com a Globenet. À partida ficámos felizes com esta ajuda, ainda mais, quando já vimos anteriormente como estes mesmos amigos não foram grande ajuda no passado recente. Quem sabe, teriam mudado.

O texto do fato relevante referia então que estes “amigos” ofereceriam um desconto de 50% no contrato de longo prazo com a Globenet entre 2025 e 2028, mas queriam condições, entre elas, ajudariam a Oi a livrar-se da sucata:

“Esta proposta de apoio ao plano indica o compromisso da V.tal em aderir a uma proposta de Plano de Recuperação Judicial, concedendo à Companhia um desconto de 50% em todas as obrigações futuras de 2025 a 2028 previstas no LTLA, desde que determinadas condições sejam atendidas. Dentre essas condições, o pagamento de 44% desses créditos remanescentes pós-desconto deverá ser efetuado por meio de dação em pagamento, mediante um acordo para o recebimento de um valor mínimo de infraestrutura de cabos de rede desativada, juntamente com a assunção da responsabilidade por todos os custos de extração e monetização da infraestrutura que a empresa venderia como sucata.”

A sucata virou ativos de cobre

Entretanto, surgem mais interessados na sucata da Oi: RK faz proposta para comprar sucata de cobre da Oi (Teletime, 15-3-2023). Foi bom surgir mais um interessado porque assim a sucata não só valorizou como até ganhou um nome menos sucateiro: ativos de cobre. Et voilà, o amigo que nos queria carregar a sucata afinal ia levar o cobre. Podiam ter escrito que a sucata era cobre no fato relevante.

Na entrevista de Rodrigo Abreu à Teletime, ficámos sabendo que a proposta da RK não seria aprovada facilmente. Afinal de contas, a proposta de compra do cobre rivalizava com a proposta dos “amigos” que nos iriam carregar a sucata. Na sequência, a RK Partners amplia oferta pela sucata da rede desativada da Oi , conforme noticiou o Teletime (4-4-2023) oferecendo mais 50% para o caixa da Oi.

Amigos de verdade, ainda mais quando já ganharam tantos “presentes” da Oi, deixariam vender o cobre e poderiam ainda considerar um desconto no pagamento já do ano corrente, deixando que parte dos quase R$ 2,5 bilhões de pagamento por conta da Globenet (só em 2023) caísse no caixa da Oi, em vez de oferecer desconto apenas nas verbas menores a partir de 2025. Amigos de verdade assistem as notícias e saberiam que é agora que a Oi tem problemas de caixa.

Vender o cobre evitaria empréstimo emergencial

E como a sucata da Oi afinal está cheia de surpresas, nos últimos dias surgiu a notícia que um fundo credor da Oi entrou com um pedido na justiça para suspender o eventual aporte emergencial solicitado pela companhia substituindo por um processo competitivo de venda dos cabos de cobre: Jive questiona arranjo da Oi com V.tal e quer processo de venda de sucatas (Pipeline Valor, 6-4-2023). O fundo argumenta que existindo um player supostamente interessado nos ativos de cobre da Oi, a venda poderia suprir o empréstimo DIP emergencial proposto pela empresa, no valor de US$ 275 milhões a juros bem altos.

Muito cobre passará ainda debaixo dessa sucata! Será como diz o ditado: Quem tem amigo assim não precisa de inimigo?

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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