Oi: A “Revolta das Sardinhas” – Acionistas Descontentes solicitam Assembleia Extraordinária Urgente

Um grupo de acionistas minoritários da Oi, representando mais de 1% do capital da empresa, endereçou uma carta à companhia solicitando a convocação de uma assembleia geral extraordinária.

A carta foi enviada à Oi no passado dia 3 de Abril e, ao que sabemos, ainda aguarda resposta da companhia. O grupo de pequenos acionistas tem vindo a crescer de dia para dia com o apoio de mais acionistas que se têm vindo a juntar ao movimento.

Oi: A “Revolta das Sardinhas” – Pequenos Acionistas Lutam Contra Diluição

Na carta os acionistas criticam a situação atual da Oi e a quebra de quase 90% do valor de mercado da companhia em pouco mais de 2 anos. Propõem uma diluição máxima de 50% dos atuais acionistas, por contraponto aos 80% aprovados pelo conselho de administração na proposta de acordo com credores. Solicitam ainda uma reunião com a direção da empresa para respostas e esclarecimentos a perguntas dos acionistas.

Os acionistas apelam ainda à inclusão dos acionistas da empresa na preservação da função social da companhia, uma vez que, são mais de 1,3 milhão de pequenos acionistas que viram as suas economias arruinadas pelo rumo da empresa. Recordamos uma matéria onde defendemos este mesmo ponto:

Oi: Juiz vai proteger as poupanças de 1,5 milhão de brasileiros de acordo injusto? Entenda porque desta vez é diferente! – Acordo Credores

Os acionistas que queiram apoiar esta ação podem ainda juntar-se entrando em contato com o grupo através dos seguintes meios:

Transcrevemos abaixo a íntegra da carta enviada pelo grupo de acionistas “Oi União Sócios”.


Prezada diretoria de relação com investidores,

Em face da grande quebra de expectativa entre os objetivos atingidos pela atual direção da OI e uma parcela significativa de acionistas minoritários, convocamos uma assembleia geral extraordinária independente e em separado às assembleias já marcadas (em formato digital). Nosso objetivo é contribuir para as atuais discussões acerca do futuro da empresa, para o seu soerguimento e trazer a atual base acionária como uma força relevante para as negociações de sua segunda recuperação judicial. Acreditamos que os nossos interesses, que são coincidentes com os interesses de triunfo da empresa, têm sido repetidamente negligenciados pela atual administração.

Para que partilhemos da mesma visão de futuro da empresa faz-se necessário estabelecer um contexto em comum, de forma que vejamos com os mesmos olhos a situação em que a OI se encontra. Em 31 de janeiro de 2020 assumiu Rodrigo Abreu como CEO da empresa. Não muito tempo depois os atuais administradores da companhia se juntaram ao time da atual gestão. Considerando-se métricas chave de desempenho da companhia, temos as seguintes comparações:

Os números falam por si. Antes uma empresa com patrimônio líquido significativo, hoje a OI tem seu valor de mercado equiparado a empresas que sequer existiam há poucos anos. Como ponderou bem um acionista anteriormente, “em que pese a existência de fatores que fogem ao controle da administração … [muitos] desafios não foram bem endereçados pelo Conselho de Administração atual”. É arrepiante considerar que a empresa destruiu 87% do seu valor de mercado mesmo tendo como base de comparação uma data já em plena recuperação judicial. Sentimos uma dissonância grave e preocupante quando as pessoas do alto escalão da empresa com exposição à mídia tentam expor a OI como um caso de sucesso. Posto de forma direta, é de uma insensibilidade alucinante considerando o tamanho e o perfil de sua base acionária.

Ademais, a companhia também deixou a desejar na comunicação com seus acionistas: perguntamos qual iniciativa foi tomada desde a nova gestão de Luis Plaster para se comunicar com a grande base de acionistas da OI? A OI é uma empresa com uma base acionária atípica, mas o time de RI da OI parece insistir em ignorar este fato. Além disso, qual o nexo em criar um relatório de viabilidade de 3 anos, sair da 1a RJ e entrar em uma 2a RJ logo em seguida? Como estas ações levam em conta o melhor interesse dos acionistas, pelos quais a gestão atual tem o dever fiduciário de zelar por? Por fim, as sucessivas diluições no ativo mais valioso da companhia se deram da mesma forma: através de informes lacônicos e em dissonância com a estratégia e viabilidade de longo prazo da companhia. Desta forma, concluímos e sugerimos fortemente que exista uma guinada de postura de comunicação por parte da empresa, olhando a mesma realidade que nós acionistas enxergamos, a realidade que os números mostram. Isto com o único intuito de, a partir deste mesmo ponto de vista, contemplarmos a mesma realidade e, a partir dela, fazer com que a OI seja uma empresa criadora de valor novamente.

Apesar das críticas acima, que, com razoabilidade, podem implicar uma falta de confiança na atual gestão por parte de alguns, ainda acreditamos que a companhia possa ter um futuro brilhante. Neste espírito, propomos as seguintes ações, e as escolhemos como uma forma de a OI mostrar que ainda leva em conta o interesse dos seus acionistas (sem comprometer desarrazoadamente o interesse dos demais stakeholders):

  1. A leitura desta carta como primeiro item da assembleia. A leitura deverá ser feita por um membro do grupo de acionistas minoritários.
  2. Que a companhia se pronuncie acerca de cada um destes 6 itens de forma pormenorizada, por escrito, fomentando um diálogo construtivo com os seus acionistas e o mercado.
  3. Contemplando os acionistas que se sentem frustrados com a atual administração (sem prejuízo aos demais acionistas): Que seja feita uma proposta de aquisição das ações em circulação no mercado por parte dos credores ao mesmo preço da conversão da ação em dívida, como forma de vincular os interesses da companhia com os seus acionistas de forma inequívoca.
  4. Contemplando os acionistas que ainda acreditam no plano de soerguimento da OI:
    a. Votação de uma proposta alternativa de diluição de no máximo 50%. Estamos seguros de que existem alternativas, dado o amplo interesse público e estratégico da companhia, a nível nacional.
    b. Proposta de “lock-up period” de 2 anos por parte das novas ações emitidas para os credores, como forma de mostrar ao mercado que os novos acionistas acreditam no futuro de longo prazo da empresa. Se a empresa der certo, ela tem que dar certo para todas as partes envolvidas: credores, acionistas e colaboradores.
    c. Vinculação de 50% da remuneração variável dos executivos da companhia ao valor de longo prazo das ações, desta forma também inequivocamente atrelando os interesses da alta administração com os da sua base acionária que ela deveria representar. Por vezes a administração da companhia é “independente” por demais, e parece indiferente à destruição de valor em curso. Não é justo a administração se distanciar do sucesso e do fracasso da companhia durante todos estes anos. Alguma independência é bem vinda, mas a independência não é um fim em si mesmo.
  5. Proposta de live mediada pela OI em conjunto com os organizadores desta carta, para que a administração possa estabelecer um franco diálogo com seus acionistas a ser executada em um prazo de 30 dias corridos do recebimento desta carta.
  6. Proposta para que a OI defenda a representatividade dos acionistas que acreditam no longo prazo da companhia, acionando o seu time jurídico para interpor junto ao juízo da recuperação e juntamente ao MP, a suspensão do direito de voto de ações alugadas, que tem expressivo poder decisório em na companhia mas que têm interesses diametralmente opostos ao sucesso de longo prazo para a companhia (já há um racional jurídico similar neste caso).

Também convidamos o poder judiciário e demais órgãos administrativos a ter sensibilidade com a função social da companhia de uma forma holística. A OI, como dito em sua 1a RJ, representa “sessenta e cinco bilhões de reais de dívida, 140 mil empregos diretos e indiretos, 10 bilhões de impostos anuais, …”. Ora, se a notável importância de 140 mil empregos diretos e indiretos é inconteste, o que pode-se dizer de 1 milhão e 300 mil acionistas, muitos dos quais tiveram suas economias arruinadas como mostram os números acima? Acreditamos que tais órgãos têm um papel significativo e ativo a fazer, de forma a ajudar para que se chegue a um acordo em que nenhuma das partes (Estado, credores, acionistas, colaboradores e demais stakeholders) sejam assimetricamente lesadas (como a atual proposta de diluição de 80% o seria para os acionistas, por exemplo).

Por fim, sabemos que temos um papel importante na colaboração da construção de um futuro viável e próspero para a OI. Atuaremos civicamente e construtivamente junto aos órgãos relevantes que têm em mãos processos vitais para a continuidade das operações da OI: ANATEL, TCU, Ministério Público, 7ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, dentre outros, para que a recuperação judicial da OI seja um caso de sucesso para todas as partes envolvidas, inclusive seus mais de 1 milhão e 300 mil acionistas.

Atenciosamente,
Oi União Sócios


Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


Publicado

em