Buraco de 3,7 bi no Relatório de Viabilidade Econômica da Oi – Quem Errou? ou Quem Enganou Quem?

Revimos os dados do laudo/relatório de avaliação da capacidade econômica da Oi, elaborado em agosto de 2022, para os 3 anos seguintes. O que achámos não é bonito!

Conforme amplamente noticiado em setembro de 2022, o Ministério Público do Rio de Janeiro solicitou ao tribunal com a tutela da recuperação judicial da companhia que exigisse à Oi um relatório que atestasse a sua viabilidade para os próximos três anos. O relatório foi finalizado em 29 de agosto de 2022 e entregue à justiça: Oi entrega à Justiça parecer de viabilidade dos próximos três anos (telesintese, 2-9-2022).

Antes de continuarmos com o relatório que demonstrou a viabilidade da Oi temos que voltar à negociação de venda da participação na V.tal (sempre ela!). Conforme detalhámos (acesse aqui a matéria), o negócio considerou uma segunda parcela a pagar em dezembro de 2022 e uma terceira parcela a pagar em dezembro de 2023. Verifique na imagem abaixo:

Comunicado ao Mercado – Apres. Fechamento da V.tal (10-6-2022) – página 8

Essas parcelas, no valor de R$ 1,3 bilhões e R$ 2,4 bilhões, conforme apresentado pela empresa na Apresentação de Fechamento da V.tal, serviriam para pagar o contrato de locação de longo prazo da Globenet, ou seja, esses valores não ficariam no caixa da Oi.

Agora a surpresa! No relatório de viabilidade para 3 anos, esses valores aparecem somados em 2022 e 2023 como se ficassem disponíveis no caixa da Oi. O relatório ignorou completamente que esses valores iriam acabar na V.tal para pagamento do contrato com a Globenet. Importa ainda atentarmos às datas: estes fatos foram comunicados em junho e o relatório tem data de agosto, portanto, eram publicamente conhecidos.

Com estes fatos, nem o caixa disponível calculado no relatório para o final de 2022 poderia ser de R$ 6,3 bilhões, tampouco o caixa disponível no final de 2023 poderia ser de R$ 10,9 bilhões.

Oi (OIBR3) afirma à Justiça que pode pagar suas dívidas em 3 anos (Suno, 5-9-2022)

Saldos de Caixa Inflacionados em R$ 3,7 bilhões – Mais de 30%

O relatório conclui que com os recebimentos previstos o caixa da Oi alcançaria R$ 10,9 bilhões no final de 2023 e, no triênio, as obrigações calculadas seriam de R$ 8 bilhões, portanto, seria suficiente para cumprir as obrigações previstas, concluindo-se pela viabilidade econômica: “Portanto, a companhia ainda terá valores relevantes à disposição em seu caixa após a quitação das obrigações previstas”.

Porém, como os R$ 1,3 bilhões e os R$ 2,4 bilhões relativos ao acordo de venda da V.tal não ficam no caixa da Oi, teremos que os descontar dos R$ 10,9 bilhões, o que corrige o valor previsto para o final de 2023 para R$ 7,2 bilhões. Com obrigações previstas de R$ 8 bilhões teremos um saldo negativo próximo de R$ 1 bilhão, ou seja, a conclusão seria precisamente a contrária não sendo o fluxo de caixa suficiente para cobrir as obrigações.

  • Relatório:
    • Saldo R$ 10,9 bi – Obrigações R$ 8 bi = R$ 2,9 bi
  • Corrigido:
    • Saldo R$ 7,2 bi – Obrigações R$ 8 bi = R$ – 0,8 bi (insuficiente)

Saldo insuficiente para cumprir obrigações = Inviabilidade

As conclusões deste relatório confirmando “plena capacidade de adimplir com seus compromissos assumidos para os próximos três anos” foram amplamente divulgadas na mídia. Não conhecemos qualquer contestação por parte da Oi a essas notícias ou valores.

Ficam as questões: Como é possível um erro desta dimensão? Alguém se enganou? Alguém enganou alguém? E quem leu, não enxergou?

Para consultar os detalhes apresentados pela Oi relativos à venda da Infraco (V.tal), acesse o documento de 9 de junho de 2022, data de publicação do Fato Relevante – Fechamento da Operação de Alienação Parcial da UPI InfraCo e o de 10 de junho de 2022, quando a Oi divulgou o Comunicado ao Mercado – Apresentação do Fechamento da V.tal.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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