Como a situação atual da Oi poderia ter sido evitada

A situação atual da dívida da Oi, apresentada em jeito de surpresa, começou se desenhando com o negócio da venda da V.tal. Em consequência desse negócio, a Oi não amortizou dívida suficiente com a venda e a situação é aquela a que assistimos hoje.

A oportunidade perdida de amortizar dívida com desconto de 55%

O objetivo da venda de ativos como a Oi Móvel ou a rede de fibra, aprovados no Aditamento ao Plano de Recuperação Judicial (APRJ) era levantar caixa para amortizar a dívida e superar a crise econômico-financeira. Se na venda da participação na V.tal, em vez do acordo que envolve a Globenet, tivesse entrado no caixa da Oi o valor mínimo previsto no APRJ de R$ 6,5 bilhões, ou mais, teria sido gerado um evento de liquidez que permitiria antecipar o pagamento aos credores Bancos e ECA’s com 55% de desconto, tal como previsto no APRJ.

Com as condições em que a Oi negociou a sua participação na V.tal, não aproveitou a possibilidade de amortizar antecipadamente a dívida com o excelente desconto previsto de 55%. No nosso entendimento, perdendo (ou evitando) essa oportunidade, a dívida da Oi não foi reduzida o suficiente e trouxe-nos à situação atual. Para fazer um mau negócio com a venda da V.tal, que não resolveria a situação econômico-financeira conforme o objetivo comunicado, seria bem melhor não ter vendido e manter o ativo. Talvez hoje não estivessemos nesta situação.

O valor e as condições de venda da V.tal

Além do problema da não amortização da dívida, o fato da participação da Oi na V.tal ser muito inferior aos 49% previstos no APRJ é também um fator que enfraquece a saúde econômico-financeira da companhia, uma vez que, reduz o valor do seu ativo.

Se o investimento necessário na expansão da rede de fibra demanda um CAPEX de R$ 5 a R$ 6 bilhões ao ano, então significa que o valor que efetivamente entrou no caixa da Oi, sem considerar a Globenet, ficou abaixo do valor que a Oi investiu em apenas um dos anos na construção da rede?

Interessante seria também conhecer o valor anual de OPEX que a Oi paga à V.tal pela utilização da rede e respetivos serviços. No blow out das discussões com credores divulgado a 2 de março de 2023 (acesse aqui) o valor indicado como previsto para 2022 é de R$ 2,2 bilhões sendo que deverá considerar apenas o período após maio, ou seja, pouco mais de metade do ano.

A ANATEL atrapalhando

Na situação atual, a ANATEL poderia também ser parte da solução do alegado problema de liquidez de curto-prazo da Oi. Qual o sentido de autorizar a venda das torres à Highline mas manter o dinheiro bloqueado? Se a ANATEL necessita de uma garantia por conta dos bens reversíveis, porque não admite outro ativo da empresa como garantia, que não impacte a liquidez, e libera esse dinheiro de que a empresa necessita?

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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