Oi – Acordo Credores: A redução para metade que esconde mais 50% e outras Surpresas

Algumas mídias têm divulgado títulos indicando que o acordo com credores pode reduzir a dívida pela metade. Não é verdade. Infelizmente. Vamos demonstrar isso com os números da empresa.

Conforme o quadro enviado à justiça na petição de recuperação judicial, a dívida total da empresa é de R$ 43 bilhões.

Pedido de Recuperação Judicial de 1-3-2023, página 26.

A metade que afinal é metade mais 50%

Na matéria onde analisámos o acordo com credores (clique aqui para acessar), detalhámos a dívida que entra nesse acordo, que são aproximadamente R$ 30 bilhões de três parcelas: Bonds/Notes 2025, ECA’s e Bancos Locais. Podemos seguir pelas palavras de Rodrigo Abreu nas entrevistas dos últimos dias “A dívida bruta da Oi a valor de face está em R$ 33 bilhões e, com o plano aprovado, deve cair para algo na ordem R$ 15 bilhões, estimou Abreu.” (Isto É, 4-3-2023).

Vamos assumir então esse desconto de R$ 18 bilhões (R$ 33 bi – R$ 15 bi). O acordo prevê ainda um novo crédito de R$ 4 bilhões. Teríamos então: R$ 43,7 bi – R$ 18 + R$ 4 bi = R$ 29,7 bi, ou seja, com o acordo a nova dívida sairia de R$ 43,7 bilhões para R$ 29,7 bilhões. Na nossa calculadora metade de R$ 43,7 bilhões seriam R$ 21,8 bilhões. Portanto, fazendo as contas com os números comunicados pela empresa chegamos a um valor de dívida que é praticamente 50% superior à metade anunciada. Uma dívida resultante de R$ 29,7 bilhões continua sendo um problema enorme para a empresa.

Trocar crédito com juro de 1,75% por outro com 5% e pagamento mais próximo

E vamos detalhar outro ponto que deixa muitas dúvidas neste acordo. A dívida atual com os ECA’s, no valor estimado de R$ 9 bilhões, tem uma taxa de juro anual de 1,75% – uma excelente taxa para os tempos atuais – além disso, tem um prazo de pagamento muito longo, com vencimento apenas em fevereiro de 2035 (acesse aqui a análise da dívida). As condições do novo crédito renegociado (pela Opção 1 do acordo) são de vencimento em 4,5 anos (bullet – pagamento único total) e taxa de juro anual de 5%. Portanto, ficamos com um vencimento muito mais próximo, em 2028 em vez de 2035, e uma taxa de juro que é o triplo da atual. Faz sentido alterar este crédito e ainda trocar metade do seu valor entregando capital da empresa, ou seja, ações dos acionistas? Este crédito tem boas condições para a empresa, tanto que nos números apresentados pela empresa, o valor justo é de aproximadamente metade do valor de face. Veja abaixo:

Em: Oi – release de Resultados do 3T2022, página 17.

Perder a V.tal e a ClientCo? O que sobra?

Outro ponto crítico do acordo é que já avança como possibilidade a venda de 30% da ClientCo, ou seja, o serviço de fibra. Olhando ao que aconteceu com a V.tal, onde os 49% previstos para a Oi acabaram em pouco mais de 30%, o sentimento é apenas um: Como confiar em quem já nos enganou com a V.tal?

Se a Oi hoje tivesse os 49% da V.tal e tivesse entrado o dinheiro previsto no caixa da empresa, a situação seria bem diferente, ou mesmo, se a V.tal não tivesse sido vendida. Em vez de dinheiro ficámos com a Globenet “no caixa”. Vamos oferecer a Globenet aos credores? Acho que eles não terão muito interesse em “sucata” mesmo… Além disso, perdendo a V.tal e a ClientCo, o que sobrará para a empresa e seus acionistas? Que unidades geradoras de valor terá a empresa? Ficaremos com uma empresa de telefonia fixa completamente incapaz de solver os seus compromissos financeiros e à beira da falência?

Leia aqui as matérias sobre o negócio de venda da V.tal:

Diluição dos acionistas atuais que perdem 80% da empresa

Além de tudo isto, conforme já analisámos em outra matéria (acesse aqui) a perda para os acionistas atuais é inaceitável. Perdemos 80% de imediato, caso este acordo seja fechado, ficando com uma empresa totalmente condenada e incapaz de gerar receita para pagar a dívida, acabando por perder todos os seus ativos.

Consulte, nesta matéria, a nossa projeção de pagamento de juros e capital associado a este acordo que será absolutamente exigente para a empresa ou, até mesmo, impossível.

Com este acordo a falência fica aguardando lá na frente.

Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.


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