Com a análise que vimos realizando ao longo de vários artigos, esperamos ter conseguido melhorar a informação dos nossos leitores em relação à dívida da Oi.
Em resumo, as condições de cada uma das parcelas de dívida que analisámos são as seguintes:
Parcela | Valor | Condições / Comentário |
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Oferta Geral | R$ 1.217 milhões (v. justo) R$ 5.420 milhões (v. face) | Pagamento em 5 prestações anuais entre 2038 e 2042. Esta componente da dívida, no nosso entendimento, não oferece preocupação para a empresa. O seu prazo de pagamento é muito longo, com um período de carência de 20 anos e, ainda por cima, sem juros para a maioria do capital. Acresce ainda a opção de quitação antecipada com 85% de desconto sobre o capital e juros capitalizados até ao exercício da opção. |
Bonds Qualificados | R$ 8.588 milhões (v. justo) R$ 9.101 milhões (v. face) | Dívida em dólares (USD). Vencimento em julho de 2025, com pagamento único do capital. Pagamento semestral de juros entre 2018 e 2025 com uma taxa aproximada de 10%. Esta parcela da dívida, na fase de pagamento de juros, tem retirado todos os anos cerca de R$ 1 bilhão do caixa da Oi dividida por duas prestações semestrais. Acreditamos que o pagamento de todo o capital em julho de 2025, num montante que estimamos em R$ 9 bilhões, estará no centro das preocupações da empresa na avaliação e revisão da estrutura de dívida em curso. |
Bancos Locais + ECA’s | R$ 11.657 milhões (v. justo) R$ 19.845 milhões (v. face) | Dívida em reais e dólares (USD). Vencimento em fevereiro de 2035 com carência de 5 anos de pagamento de juros e capital. Início do pagamento em agosto de 2023 em prestações semestrais. O prazo longo é favorável à empresa, os juros são baixos para a componente em USD (1,75% ano) e abaixo dos juros de mercado (80% do CDI) para a componente em reais, no entanto, o fato do início do pagamento ocorrer já em 2023 pode levar a empresa a querer renegociar estas parcelas da dívida. |
Conclusão
Podemos resumir na tabela abaixo o plano de pagamentos das várias componentes de dívida analisadas, de acordo com a nossa estimativa, arredondada, para os anos 2023 a 2025 (valores em milhões de reais):
A tabela acima é muito importante para nos dar uma visão global sobre o impacto no caixa da Oi do pagamento de juros e da amortização de capital nos próximos três anos.
Acreditamos que, sem renegociação da dívida, a Oi não teria dificuldades para fazer face aos pagamentos previstos para 2023 e 2024, que estimamos em R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões respetivamente. A “queima” de caixa seria pesada nos meses de fevereiro e agosto destes anos – meses previstos de pagamento -, mas o saldo de caixa e as entradas previstas deverão ser suficientes para suportar estes pagamentos sem problemas de maior.
O maior embate no caixa da empresa ocorrerá em 2025 com pagamentos que estimamos em R$ 11,5 bilhões, causados sobretudo pelo vencimento dos Bonds Qualificados que calculamos em R$ 9 bilhões.
Na renegociação, os Bonds Qualificados (ou Notes 2025) poderão ser uma das componentes mais difíceis para a Oi, uma vez que, estamos próximos do vencimento (2025) e os juros são bons para os credores (10% ano).
A renegociação com os bancos locais e ECAs poderá ser menos dura para a Oi porque além do prazo longo, a taxa de juro não é a mais favorável aos credores. A companhia poderá utilizar estes pontos como moeda de troca por prazos e condições mais favoráveis, sobretudo, empurrando mais para a frente o início do pagamento que nas condições atuais está prevista já para agosto.
Os bancos locais demonstraram vontade de encaixar um desconto sobre o valor da dívida para antecipar o seu recebimento. Isso poderá jogar em favor da negociação. A Oi poderá até tentar quitar esta dívida com um novo financiamento.
O desafio será reestruturar os financiamentos existentes, substituir por novos financiamentos ou efetuar financiamentos temporários.
A renegociação com credores em curso mostra que a empresa está encarando o problema da dívida, que é o principal ponto crítico neste momento. Acreditamos que conseguindo reestruturar com sucesso a sua dívida, a empresa desbloqueie o seu valor e o mercado olhe de forma diferente para a companhia.
De qualquer maneira, acreditamos que a empresa tem condições para ultrapassar estes obstáculos com sucesso, tal como já conseguiu superar outros mais difíceis durante o longo processo de recuperação judicial.
Continuaremos acompanhando o tema da dívida da Oi, que é, nesta fase, um dos pontos críticos do seu turnaround.
Leia as três partes desta matéria nas ligações abaixo:
- Os Segredos da Dívida da Oi – 20 anos sem juros – Parte 1: Oferta Geral
- Os segredos da dívida da Oi – R$10 bi a pagar em 2025 – Parte 2: Bonds Qualificados
- Os segredos da dívida da Oi – Pagamento de R$ 1 bi em Agosto – Parte 3: Bancos Locais e ECAs
Como complemento, recordamos o quadro de dívida da apresentação de resultados da empresa (3T2022) do terceiro trimestre de 2022 e a tabela com os valores a valor de face e justo valor que integram a release de Resultados do 3T2022:
Nota: As informações publicadas são opiniões, interpretações e estimativas, podem não ser exatas ou corretas e não devem ser tomadas em conta para qualquer ação ou decisão de investimento. As informações oficiais devem ser procuradas junto da empresa e das autoridades competentes.